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Tenki no Ko: Precisamos falar sobre a aposentadoria do Shinkai | Review




Diretor: Makoto Shinkai 
Studio: CoMix Wave Films
Filme: 2019

Nada, absolutamente nada é feito no vácuo, o que quero dizer com isso é que nenhum anime, mangá, ou seja lá o que for, nada é produzido frente ao nada, em outras palavras, tudo que vemos e consumimos, possui a influência das experiências, opiniões e vivencias de quem o produziu. Tenki no Ko e Kimi no na wa, se eu te mostrasse esses dois filmes, um após o outro, você muito provavelmente iria observar fortes semelhanças entre eles, e não me refiro a semelhanças estéticas apenas, mas principalmente em sua estrutura narrativa.

Ao longo de minha experiência com Tenki no Ko, eu fiquei com um forte sentimento de que já havia visto aquilo em algum lugar, e de fato já havia visto! basta assistir qualquer maldita obra do "Shinkai", que você irá perceber que se trata da mesma história, somente mudando seus personagens, ambientação e seus elementos fantasiosos, mas a estrutura narrativa é sempre a mesma, e honestamente, essa estrutura já está cansada.

A fórmula "Makoto Shinkai" de fazer filmes

Tenki no Ko novamente nos traz um enredo baseado no “amor impossível”, ou seja, duas pessoas que criam um sentimento de amor um pelo outro, porém por força maior não podem ficar juntas, e todo o desenrolar da história parte daí, e isso por isso só não é o problema, a estrutura do roteiro é sim simples e repetitiva, tudo bem! Mas isso não é desculpa para o desenvolvimento daqueles personagens ser tão inorgânico e apressado como foi feito aqui, e como sempre digo “Personagem é rei!”, e "Shinkai" sabe que aquele enredo reaproveitado de todas as suas últimas obras não se sustenta por si só, então ele tenta te convencer de que você precisa se identificar, ou no mínimo simpatizar com aqueles personagens, coisa que sinceramente eu não consegui.



Como não desenvolver personagens

Como havia dito acima, a estrutura narrativa dessa obra é tão cansativa e repetitiva, que acaba sobrando para os personagens principais da obra a sustentar durante quase 2 horas de filme, e bem, eles conseguiram fazer isso? Acho que você já sabe a resposta, não? Os personagens principais, no caso o "Hodaka" e a "Hina", eles não me parecem verdadeiramente personagens, sabe? Eles me parecem alegorias a conceitos de personagens que tem a função de movimentar a drama, mas não são realmente personagens que possuem uma complexidade em seus pensamentos, falas e ações, deixe-me explicar melhor. Para que você tenha bons personagens, duas coisas são essenciais: Identificação e objetivo, e caso um desses elementos não funcione, cabe ao outro tornar aquele personagem verossímil, e fazer com que nos importemos com a história que está sendo contada, e isso não ocorre em Tenki no Ko.

O filme basicamente conta a história de "Hodaka", um garoto que fugiu de sua terra natal (Qual foi o motivo? Fod@-se, o filme não conta), e tenta uma nova vida em Tokio, e com isso acaba conhecendo uma garota chamada "Hina", uma “garota do sol” que através de sua “Fé” ou algo do gênero, consegue mudar o clima (claro, tinha que ter algo sobrenatural, se não, não era um filme do "Shinkai"). E esse breve resumo que dei é basicamente tudo o que filme te mostra do início ao fim, então temos pouquíssimos elementos trabalhados nesses dois personagens que façam deles personagens interessantes ou minimamente criveis. Falando especificamente do "Hodaka", ele é um personagem muito vazio objetivamente falando, ele não possui nenhum objetivo claro a cumprir, então ele basicamente vai se guiando de acordo com os eventos que vão acontecendo em sua vida. O personagem do "Hodaka" é muito reativo, ou seja, ele nunca toda a frente de algo para ir atrás de seus objetivos (já que eles não existem), e isso é algo péssimo quando estamos falando do personagem, que em tese, era para ser o protagonista dessa história.



Fora a falta de objetivo e personalidade que "Hodaka" tem, ele é muito “nada”, sabe? Sinto que qualquer outro personagem da face da terra poderia ser o "Hodaka", pois ele é apenas um papel em branco, uma personalidade genérica padrão de adolescente japonês, sem objetivos, desejos a longo prazo, um personagem reativo, muito difícil de se relacionar, simpatizar ou qualquer coisa do tipo... Consegue ver agora o grave problema que temos nesse filme!? E sinceramente, nem quero falar muito sobre a "Hina", somente saiba que ela é tão mal escrita e desinteressante quanto, e como sempre, ela é a personagens que tem “poderzinho”, e não me entenda mal, existe uma mística muito bacana criada em volta desse poder sobrenatural, pena que isso foi desenvolvido de uma maneira tão satisfatória quando os demais elementos restantes do filme, ou seja, não foi desenvolvido.


O amor impossível já está chato pra car@lho

No final do dia, esse filme é um filme de romance, então esperamos que ele conte uma boa história de romance, certo? Bom, eu não sei até que ponto podemos considerar essa história de amor uma boa história, mas ela também não é de toda ruim. 

Como já havia mencionado anteriormente, o "Shinkai" insiste em usar essa estrutura de “amor impossível” em seus filmes, ou seja, apesar dos personagens se gostarem, eles não conseguem ficar juntos, e a relação de ambos vai se alimentando basicamente pela vontade de estarem juntos novamente, e essa estrutura por si só não é ruim, pelo contrário, dá para contar histórias incríveis utilizando essa estrutura, o problema de utilizar ela em Tenki no Ko é que os personagens não são cativantes, fora que eu já vi essa mesma história em todos os outros filmes do "Shinkai", então não tinha com isso dar certo nesse filme. Eu vejo esse romance do "Hodaka" e da "Hina" como algo muito superficial, principalmente no primeiro contato que eles tiveram... Não sei se essa cena foi estranha somente para mim, mas quando eles vão para aquele prédio abandonado, e a "Hina" da um esporro do "Hodaka" por ele ter quase matado uma pessoa, ela o xinga, apontando ele como um cara desprezível, do qual ela tem nojo, e literalmente 5 segundos depois ela volta a falar com ele, de uma maneira toda carinhosa, e isso não faz absolutamente nenhum sentido, mas enfim, toda a relação deles é baseada nessa frase “Não faz sentido!”, o amor do "Hodaka" pela "Hina" é só uma ereção de adolescente, até porque nessa idade qualquer mulher que dá um “oi” para nós, nós já ficamos excitados, e o amor de "Hina" por "Hodaka" é igual o meu amor por esse filme, ou seja, inexistente. Dito tudo isso, o clímax do filme não consegue me emocionar exatamente por isso, os personagens são mal escritos, o amor que um sente pelo outro parece algo muito unilateral e pouco crível, logo, o romance desse filme deixou muito a desejar.


Vamos falar de aquecimento global? Não!

Uma coisa tenho que admitir, por um momento o "Shinkai" me enganou, me fazendo acreditar que finalmente ele iria discutir temas sérios e profundos em sua obra, nem que seja em seu subtexto, mas fico feliz (ironicamente) em te contar que não, seus filmes continuam superficiais, feitos para a grande massa de otakus médio.

Os temas que o "Shinkai" ameaça inserir nesse filme, como o aquecimento global, as mudanças climáticas e o mal que o ser humano está causando a natureza são aplicados de maneira muito superficial a obra, a impressão que me dá é que ele quis falar desses temas, mas para transformar o filme em algo vendável, foi necessário apenas fazer pequenas citações a esses temas, e focar no romance adolescente meloso que vemos no filme, e isso me deixa bem decepcionado, pois um filme como esse teria tudo para realmente colocar o tema em voga para a grande massa, tendo em vista que foi um filme transmitido em cinemas por todo o mundo, e isso, ao meu ver, foi uma decisão precipitada do "Shinkai", pois ele já fez o seu nome na indústria, e não precisaria criar outra obra “genericamente incrível” como foi Tenki no Ko. No fim, a oportunidade de debater temas sérios, que estão em voga em nossa sociedade, foi jogado no lixo.

Até quando, Shinkai?

No fim do dia, acredito que se era para ver um filme como todos os outros do "Shinkai", eu iria assistir o Kimi no na wa, pois apesar de ser igualmente ruim, não existiria a expectativa de ser algo bom, como foi com Tenki no Ko. A pergunta que fica é: Até quando? Até quando vamos nos contentar com enredos genéricos, personagens subdesenvolvidos e essa falta de comprometimento com uma mídia tão rica e ao mesmo tempo repleta de obras vazias? Até quando vamos engrandecer diretores estagnados no tempo como o "Shinkai"? Até quando vamos nos contentar apenas com uma boa animação (aliás, genericamente boa)? Até quando o otaku médio vai bater palma para qualquer coisa que empurrem goela abaixo dele? Eu não tenho respostas para nenhuma dessas perguntas, mas de uma coisa eu sei, eu estou cansado.


Resenheiro de deseinho japonês, audiófilo e sommelier de café nos tempos vagos.

Cargo: Escritor/Parceiro  

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