Diretor: Michael Giacchino
Ano: 2022
Em 1972, apenas dois anos após o encerramento do Comics Code Authority, um código que bania qualquer tipo de coisa considerada imoral nos quadrinhos americanos na época, nasceu em Marvel Spotlight nº2 o Lobisomem, um personagem inspirado no folclore europeu, mas que tinha como base o filme de Lobisomem de 1941. Junto dele outros personagens surgiram ou renasceram, muitos deles inspirados em criaturas mitológicas ou em filmes de monstros da Universal Studios e a falecida Hammer Film Productions, estão entre eles alguns icônicos como Drácula, Blade e Cavaleiro da Lua.
Apesar do sucesso do quadrinho esses personagens acabaram ofuscados por outros personagens quando as crianças deixaram de se impressionar com histórias de monstros, afinal as referências nos filmes e programas de TV haviam mudado e pouco se falavam mais de filmes de Múmias e Fantasmas, tornando-se parte de uma sub-cultura, e os únicos que voltavam a ler essas revistas eram os fãs de velha guarda.
Até que na D23 de 2022, evento da Disney que faz anúncio de seus próximos filmes e séries, ressurge como um especial de halloween um média metragem chamado Lobisomem na Noite, com uma estética remanescente aos filmes clássicos dessas criaturas o trailer chamou atenção do público pela abordagem um tanto quanto arriscada da Marvel Studios ao trazer um personagem tão esquecido e de forma tão diferente do que a sua audiência está acostumada.
Mas o que o novo filme da Marvel acrescenta no seu vasto universo e qual valor ele tem como produto solo? Bom, como um fã dos filmes clássicos de terror, eu sou um pouco vendido quando se trata de referências a essas criaturas, mas Lobisomem da Noite foi uma grata surpresa neste mês de halloween. O filme em sí tem uma história e roteiro simples, mas bem eficaz, quando um grupo de caçadores se reúnem em tributo do falecido Ulysses Bloodstone, um caçador de monstros lendário, eles são colocados em uma competição que tem como prêmio uma pedra mágica que tem como propriedade enfraquecer e combater criaturas da noite, porém tudo muda quando um monstro entra no meio da competição.
O longa tem como objetivo maior homenagear o filme de 41 e toda essa época dos anos 70 nos quadrinhos da editora, mas não é por isso que ele não tenha nada a dizer, o filme traz à tona conversas sobre humanidade e inversão de valores, incluindo misericórdia disfarçada de intolerância. Um dos diálogos que levanta bola para esse debate é quando um personagem é perguntado a respeito das marcas que tem em seu rosto, e ele responde dizendo que é para honrar a memória de seu povo. Na cultura Navaja existe a crença em uma criatura chamada de Skin-Walker ou Yee Naaldlooshii, as vezes contado como uma bruxa que pode se transformar em criatura ou um homem que se transforma em lobo, de acordo com os acontecimentos do filme podemos facilmente relacionar isso a intolerância do povo americano para com os indígenas desde a colonização de suas terras, e como até hoje para o cidadão comum existe essa sensação de superioridade a esses povos para julgar o que é certo ou errado em suas culturas.
Esse até então pode ser visto como o filme mais independente da Marvel Studios desde que o Universo Cinematográfico teve o seu início com Homem de Ferro, e mesmo assim ele abre espaço para inúmeros caminhos dentro da saga da Marvel nos cinemas, o que eu espero é que ele se mantenha como algo pequeno, a ideia de fazer especiais é perfeita para que essas pequenas histórias que talvez pareçam tão deslocadas possam ter seu espaço e franquia, longe dos cinemas ou de toda uma série que deve ser interligada a todo custo.
Lobisomem na Noite pode gerar estranheza para um público que não esteja acostumado com filmes antigos ou nem sequer tenha conhecimento do porquê dele ser como é, mas para os fãs de terror clássico, monstros e folclore, o filme é uma grande homenagem e uma ótima pedida para um entretenimento divertido.
Solid_Mateus
Mateus, amante de Cinema Alternativo, Filme B, Exploitation, e o maioir defensor de diretores odiados pela crítica especializada. Nas horas vagas sou Otaku, mas isso é segredo.
Cargo: Escritor
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