Devilman é uma série de mangás criada por Go Nagai lançada em 1972 contando com 5 volumes. A obra já ganhou várias adaptações ao longo das décadas, sendo a série televisiva de 1972, produzida pela Toei Animation, a primeira aparição de Devilman no mundo audiovisual.
O mangá narra a trajetória de Akira Fudou e sua transformação em Devilman na luta contra os demônios, que pretendem exterminar a humanidade e dominar novamente o planeta. Para impedir que isso ocorra, Akira e seu melhor amigo, Ryo Asuka, iniciam um plano para salvar o mundo.
A obra é controversa (apesar de seu autor possuir a mesma alcunha), dividindo opiniões, o que não lhe confere uma característica negativa. Mesmo que seja um tópico amplamente discutido e difundido em diversas análises (principalmente no lançamento de Devilman Crybaby), boa parte não parece romper a superfície, além dos exageros, sejam esses para o bem ou para o mal.
O texto apresentado trará uma coletânea de fatos, informações e curiosidades pretéritas de um dos mais famosos trabalhos de Go Nagai, bem como explorar Devilman mais a fundo, e talvez, por um fim em perspectivas levianas.
2. O Nascimento:
Akira se transforma pela primeira vez. Devilman, Vol. 1. |
Devilman não foi o primeiro demônio concebido por Go Nagai. Em 1971 é lançado o mangá Maou Dante (Demon Lord Dante) pela Kodansha, contando a trajetória de Ryo Utsugi e sua transformação em Dante, O Rei dos Demônios.
Demon Lord Dante. Notem a semelhança do quadro com A Night on Bald Mountain (Uma Noite na Montanha Calva) de Modest Mussorgsky, no musical Fantasia, 1940. |
A produtora Toei Animation, depois de ver Dante, entrou em contato com Nagai, perguntando se não seria possível criar uma série animada com um personagem que mantivesse aspectos demoníacos, mas que fosse humano. Assim, o autor inicia a criação de Devilman, utilizando Maou Dante como protótipo. Em verdade, ambos os trabalhos partilham de muitas semelhanças como, reutilização de nomes, os Himalaias como uma prisão para os demônios (Go Nagai foi fortemente inspirado pelas ilustrações de Gustave Doré em A Divina Comédia) e o confronto que vai marcar o fim da raça humana, além de outras características.
Tanto o anime quanto o mangá foram exibidos quase simultaneamente em 1972, porém possuem abordagens distintas. Devido ao público da Weekly Shounen Magazine, Go Nagai traz uma conduta mais séria em seu trabalho ilustrado e deixa de lado a premissa do herói que salva o dia, apesar que esse elemento ainda configure significativamente no mangá. Outro componente é a adição de Ryo Asuka, que funciona como ponto de virada no enredo.
3. Deus e O Diabo, mas nada de maniqueísmo:
A visão de um mundo dividido entre forças opostas é a principal base do maniqueísmo. |
Qualquer tipo de concepção que divide o mundo em poderes opostos e inconciliáveis é dita maniqueísta, o dualismo entre bem e mal, luz e trevas. Pelo senso comum algo que é bom não é mau, e o que for mau não pode ser bom. Por mais simplista que a ideia possa ser, ela está presente na literatura, no cinema e na religião. Em Apocalipse 16:16, a palavra Armagedom é mencionada, sendo o lugar onde ocorrerá a batalha final entre o bem (Deus) e o mal (Satanás). O termo também está relacionado com o fim dos tempos.
Mas e em Devilman?
Mesmo que Go Nagai construa seu personagem embasado na bíblia, ele não faz Satã (Ryo Asuka) uma figura inteiramente maligna. Na verdade, o autor parece espelhar o antagonista do seu mangá no épico de John Milton, Paraíso Perdido (Paradise Lost).
A rebelião de Lúcifer fracassa. Parasíso Perdido, 1667. Ilustração de Gustave Doré. |
No poema de 1667, Satanás (antes Lúcifer) faz o papel da figura trágica, que considera Deus, seu criador, como um tirano, sendo sua revolta decorrente de não se subjugar ao Senhor e alega que os anjos são “autogerados”, não lhe devendo obediência. Após ele e seus seguidores serem derrotados, volta sua atenção para a criatura mais amada por Deus, o homem. O personagem é arrogante e manipulador, embora carismático, além de não possuir moral. Satanás acredita que suas intenções são corretas, apesar que esboça arrependimento em suas ações, já que reconhece sua natureza depravada.
No mangá de Go Nagai, Satã é um anjo rebelde que desafiou a vontade de Deus. Despreza os seres humanos e não suporta ver o planeta ser habitado por eles, então inicia seu planto, junto com os demônios, de aniquilar a humanidade. Ainda que possua ambições destrutivas, Satã julga que suas ações são para o bem comum. No fim mostra remorso por suas ações, e amargura por perder aquele que amou.
Em relação a Deus, esse nunca é realmente mostrado, apesar de ser mencionado constante ao longo do mangá. O Criador parece agir como um opressor, criando e destruindo conforme sua vontade, atitude essa que leva a rebelião de Satã. Atua quando lhe é conveniente, deixando a humanidade e os demônios aniquilarem uns aos outros para depois destruir o que restou. Por uma óptica mais ampla, Nagai faz de Deus um ser falho, pois considera suas criações como erros, e devem ser eliminadas. Tal pensamento entra em oposição a Deuteronômio 32:4 (Ele é a Rocha, as suas obras são perfeitas, e todos os seus caminhos são justos. É Deus fiel, que não comete erros; justo e reto ele é).
3. A natureza humana é perversa:
Miki Makimura cai em desespero. Devilman, Vol. 5 |
Em alguns de seus trabalhos, Go Nagai parece recorrer ao pior lado do ser humano, e diversas vezes nos apresenta uma sociedade entregue a barbárie. Curiosamente Devilman não é pioneiro no quesito. No final da década de 60 o autor publica Gakuen Taikutsu Otoko, ou Guerilla High, que acompanha dois estudantes lutando contra a tirania do sistema educacional utilizando métodos pouco ortodoxos. Possivelmente o mangá seja uma provocação de Nagai contra a indústria, já que o mangaká era criticado pela utilização de erotismo e violência gráfica em obras para crianças.
O mangá do homem demônio consegue entregar uma discussão interessante sobre a natureza humana, já que flerta demasiado com o negativismo de Thomas Hobbes acerca do tema. De acordo com o acadêmico, desde o primeiro suspiro o homem é perverso e egoísta, possuindo forte instinto de sobrevivência, devido a essa tendência, é capaz de cometer qualquer tipo de ato. Para Hobbes, a sociedade teria papel em humanizar o ser, tornando-o sociável, então seriamos dependentes do estado para a convivência. Mas o que aconteceria se esse sistema fosse abaixo? É nessa pergunta que a obra Devilman pega embasamento, montando um cenário onde o instinto se sobressai aos valores e leis fundamentados, tendo o medo como gatilho, e que mais tarde, desencadeia o pânico moral.
Comumente o tema pânico moral é associado ao teórico Stanley Cohen. Ainda que o termo seja utilizado pela primeira vez por Jock Young, é com Cohen que o assunto ganha maior significância. Ele define o problema como fenômenos recorrentes que a sociedade está sujeita periodicamente, no sentido de que algum elemento é estabelecido como uma ameaça aos interesses sociais, sendo a natureza desse elemento apresentada de forma exorbitante.
Em seu estudo Cohen propõe um ciclo de fases. Na primeira é organizado um conjunto de rumores e percepções desorganizadas, constituindo uma interpretação para o problema, criados a partir do exagero e distorção (sensacionalização). A segunda consiste em tentar atribuir significado ao problema. Ocorre a saída da esfera factível para o domínio interpretativo. É nessa fase que se constrói um estereotipo em relação aos agentes problemáticos, resultando em uma imagem demonizada do grupo desviante (folk devils). A terceira e última fase está relacionada com a ação e remediação do problema, possuindo dois níveis. A sensibilização, referente a focalização da atenção do público. Estágio mais acentuado do pânico moral, no qual comportamentos considerados irrelevantes se tornam suspeitos. O segundo nível é referente a mobilização da cultura de controle social.
Com base em estereótipos, tem-se o início da "demonização" da sociedade. Devilman, Vol.4. |
4. Só sexo e violência? Dificilmente:
O Sabbath. Festividade em que os participantes se entregam aos excessos. Devilman, Vol.1. |
Possivelmente os protestos envolvendo a gratuidade de certos aspectos em Devilman sejam os mais constantes, algo que não é novidade, e convenhamos, se observado atualmente, o mangá de 72 não é tão apelativo, mesmo que possua nudez ou mutilações. Berserk, de Kintaro Miura, consegue ser mais berrante em alguns momentos.
Talvez o responsável por reviver essa impressão do trabalho de Nagai tenha sido Devilman Crybaby de Maasaki Yuasa. O anime da Netflix gerou certa comoção e espanto, devido ao teor de violência e sexualização explícita. Mas qual é o ponto disso? Há algum contexto para o que é apresentado? Existe só por existir?
Desde de tempos remotos, o homem é identificado como uma fera, pois também é um animal, e possui ânsias e exaltações.
Devilman proporciona um encontro com o bestial, ou melhor, abraçar os instintos e excessos e abandonar a consciência e temperança. Aristóteles considera os desejos incontroláveis pela razão como maus, já que os indivíduos não estão em conformidade com a justa medida (equilíbrio entre vício e virtude), estão fora dos limites da humanidade. Algumas pessoas conseguem não agir segundo a vontade dos impulsos, mas não conseguem moldar sua mente para livrarem-se deles.
Os demônios são uma alusão ao raciocínio, pois só pode haver a possessão se o indivíduo abandonar totalmente a razão, então a parte primitiva e impulsiva ganharia forma. Temos uma “lobificação” (homo homini lupus) no sentido literal.
4.1. Devilman e a Alegoria da Carroça:
A Alegoria da Carroça ou Parábola da Biga, utilizada por Platão. |
No diálogo com Fedro, Platão concebe a imagem de uma biga (carroça da antiguidade) puxada por dois cavalos, um branco e outro negro. O filósofo utiliza a metáfora para descrever a alma humana.
O cavalo branco possui traços finos, é ereto, amoroso e amigo da moderação. Em contrapartida, o cavalo negro é bruto, robusto, arrisco e violento. O primeiro designa o elemento apolíneo (referente ao Deus Apolo), a parte racional, enquanto o segundo desestrutura a razão, sendo o componente dionisíaco (o Deus Dionísio), excessivo e furioso.
Akira Fudou e Mikiko "Miko" Kawamoto. De maneira análoga, as mudanças se assemelham aos aspectos dos cavalos na alegoria. |
Seguindo o pensamento semelhante, Sócrates procurava sobre a natureza de si, mas acaba por descrever a natureza humana. O homem é um ser intermediário, não estando completamente entregue ao animalesco, tampouco ser inteiramente divino, então deve conciliar estes dois opostos. De maneira semelhante, Akira Fudou transita entre um lado humano (racional) e outro demoníaco (bestial), se der rédea para o segundo (alusão ao cavalo negro), se tornará indistinguível das bestas.
5. Um início desnecessário e um final impactante? Na verdade não:
Akira Fudou quebra a quarta parede, e anuncia a iminente tragédia. Devilman, Vol.3. |
Comentar que Devilman possui um começo dispensável é descabível e até sem sentido, pois como poderia haver uma conclusão marcante sem arquitetar o precedente?
É inegável que Go Nagai trabalha na construção da concepção de Fudou Akira, que apesar da sua natureza híbrida, encara os fatos no preto e branco, ou seja, os humanos devem ser salvos e os demônios devem ser destruídos. O próprio autor levanta essa imagem, colocando a humanidade como vítima.
O protagonista desenvolve uma aversão genuína contra os demônios, mesmo que ele compartilhe características similares, pavimentada no encontro de Akira e Jinmen, pois segundo o demônio tartaruga, ser odiado é a maior das honrarias. A partir desse embate, é criada a convicção de que os seres demoníacos devem ser aniquilados e, novamente, Nagai torna irrefutável a natureza vil e puramente cruel das criaturas, entretanto, também é capaz de entregar outra faceta.
Akira demonstra convicção de que deve exterminar os demônios. Devilman: Yochou Sirene-hen. |
Se por um lado os demônios são caracterizados como irracionais, Silene, por outro lado, é capaz de demonstrar senso de companheirismo e orgulho. Mas é com Kaim que o assunto vai para outro patamar, seriam os demônios capazes de amar? A questão fica presa na mente de Akira.
Kaim propõe se fundir com Silene, tornando-se um para derrotar Devilman. Devilman, Vol.2 |
Durante o decorrer da obra, Devilman abre as cortinas para uma tragédia que culminará em sua assombrosa conclusão. Mesmo que as ações que ocorrem influenciem no final, por mais que pareçam ser o ponto chave, não possuem efeito sozinhas, pois Nagai destroça tudo do que foi levantado sobre a percepção de Akira. O bom e o mau, a vítima e o vilão não possuem mais distinção, humanos e demônios são mais semelhantes do que parecem. Talvez as pessoas sejam apenas bestas sob a pele de homens. Por tais aspectos, o mangaká torna seu protagonista sem rumo, desorientado e primariamente sem esperança.
6. Devilman ao logo dos tempos:
As muitas encarnações do Homem Demônio. |
6.1. Mangás:
Em 1972 nasceu Devilman, que se destacou pela abordagem de alguns temas, além de mexer com certos dogmas religiosos, gerando uma polarização entre os leitores. A partir desse ponto, cresce ainda mais a imagem controversa de Go Nagai. Apesar do extremismo (para a época) que a obra possui, o autor propõe uma mensagem antiguerra. Devilman serve como ponto de partida para a criação de outras obras do universo. No mesmo ano, Mitsuru Hiruta, junto com Nagai, publicam o mangá de Devilman inspirado na série de TV.
Shin Devilman, é publicado pela Shougako Sannensei no ano de 1979, funcionando como um spin off da série original. O título recebeu o nome alternativo de Devilman: Time Travelers, e como já é perceptível, narra as façanhas de Akira e Ryo em diferentes períodos históricos como a Guerra dos Cem Anos e início da Revolução Francesa.
No ano de 1997 é criada a versão feminina de Fudou Akira. O mangá Devilman Lady começa a ser publicado pela Kodansha. Nessa versão a violência desenfreada ainda dá as caras, entretanto, o autor utiliza uma abordagem mais apelativa em relação ao conteúdo sexual. Mais tarde Lady se revela como uma sequência do Devilman de 73, se passando em um universo alternativo, colaborando com a hipótese de um "Devilverse".
Possivelmente o mangá seja mais relembrado pelos elementos lascivos do que qualquer outro aspecto apresentado. Devilman Lady, Vol.1, Cap.3. |
Os trabalhos envolvendo Devilman não são unicamente da autoria de Go Nagai. Em 1999 Neo Devilman é lançado. O mangá reúne uma coletânea de histórias, geralmente relacionadas com a obra original, criadas por diversos mangakás como Yoshikazu Yasuhiko (Mobile Suit Gundam: The Origin), Hitoshi Iwaaki (Parasyte) e o próprio Nagai. Existe um mal-entendido de que Katsuhiro Ootomo (Akira) teria participado do projeto, o que nunca ocorreu.
Ainda em 1999, Nagai retorna para sua obra, porém não está trabalhando no projeto sozinho. Yu Kinutani fica responsável pelas ilustrações, enquanto Go Nagai é encarregado pela história, assim surge Amon: Devilman Mokushiroku, ou Amon: The Darkside of Devilman. A proposta do mangá é ser uma versão alternativa, em que Akira se torna o destruidor da humanidade, após o trágico evento envolvendo Miki Makimura. A obra possui uma narrativa não linear e até confusa, tendo início nos acontecimentos finais de Devilman, em seguida volta para o passado remoto, apresentando um planeta primitivo habitado pelos demônios, e tem sua conclusão no começo da guerra que ocasionará o fim da humanidade. Amon ganhou uma side story intitulada Devilman Mokushiroku: Stranger Days, no ano de 2005.
Akuma Kishi, publicado pela Kodansha em 2007, é o prequel de Devilman. Go Nagai complementa e traz uma nova origem para o universo da obra de1972, no entanto, cria discordâncias e contradições com a mesma.
Em 2012, Go Nagai e Rui Takato produzem Devilman Grimoire (G), com o intuito de introduzir Devilman para um novo público. Seguindo um estilo mais cartunesco, mas sem dispensar violência e libertinagem, o ponto de diferença em Grimoire são os personagens e seus papéis, sendo o maior exemplo Miki, que possui protagonismo de destaque na trama. O mangá, ao contrário dos antecessores, não segue um caminho trágico.
Em Devilman Grimoire Miki realmente se considera uma bruxa, capaz de invocar demônios e afins. Devilman Grimoire, Vol.1, Cap.1. |
Go Nagai regressa novamente para uma de suas obras mais famosas, dessa vez sem colaboração, lança Devilman Saga no ano de 2014, prometendo ser a conclusão do universo Devilman. O mangá adota uma visão futurista, em que os demônios são criaturas biomecânicas e se fundem como uma espécie de armadura cibernética. Depois de tantas versões, Devilman parece ter perdido o impacto ao longo das décadas, tornando-se imemorável, e esse último trabalho do autor não é exceção.
É em 1972 que Devilman faz sua estreia na televisão, porém, não segue o material fonte. Distribuído pela Toei Animation, o anime segue a fórmula monstro da semana, além de conferir uma aparência mais humana para o herói, e diferente do mangá, traz uma mensagem mais otimista. Apesar de veiculado para o público jovem, a série não é tão amigável.
Devilman da Toei Animation, com direito a cinto e sunga, marca registrada dos heróis da época. |
Apenas no ano de 1987 Devilman ganha uma animação mais próxima do mangá original. O OVA (Original Video Animation) nomeado Devilman: Tanjô-hen (The Birth) conta como Akira Fudou se tornou um devilman, além da revelação de Ryo Asuko sobre os demônios. Um segundo OVA foi lançado em 1990, chamado Devilman: Yochou Sirene-hen (The Demon Bird), que marca o confronto entre Devilman e Silene. Ambas animações foram dirigidas por Umanosuke Iida, que curiosamente, não utilizou o mangá de 72 como base, e sim a novel True Devilman, criada por Yasutaka Nagai, irmão de Go Nagai.
Não foi apenas o homem demônio que ganhou adaptações. Em 1998 a TMS Entertainment lança uma adaptação de Devilman Lady, também chamada de Devil Lady. Semelhante ao mangá 97, segue a premissa de organização secreta combatendo forças sobrenaturais, porém não segue à risca o material fonte, além de ser mais contido no erotismo, elemento marcante na versão quadrinizada. Talvez seja a animação mais esquecida da franquia.
Vendido como a conclusão dos OVAs de Iida, Amon: The Apocalypse of Devilman fez sua estreia em 2000, produzido pelo Studio Live, o longa coloca Devilman cara a cara com sua outra metade, o demônio Amon. A adaptação se trata de uma mistura entre o mangá original e Devilman Mokushiroku.
Amon, o lado sombrio de Devilman. Provavelmente inspirado na representação católica do Demônio. |
Depois de 18 anos, a obra de Go Nagai ganhou uma nova adaptação, e tem o celebre Maasaki Yuasa responsável pelo projeto. Devilman Crybaby traz o nome Devilman de volta dos confins do inferno (piadas a parte) e leva para a boca do povo. Similarmente ao mangá de 1972, Crybaby dividiu opiniões em diversos veículos, mas também foi responsável por apresentar a trajetória de Akira Fudou para um novo público. De fato, Yuasa transfere o seu estilo para o clássico, e deixa em proximidade com a atualidade, mas não muda a essência do produto, o que não significa que o diretor reinventou Devilman. Yuasa também reaproveita alguns aspectos de outras versões como, True Devilman, Devilman G e até o tenebroso live action de 2004.
Para mais informações acesse: Devilman Crybaby Review
Incontestável que Devilman se tornou um símbolo da cultura pop japonesa, aparecendo ou sendo referenciado não apenas dentro do universo criado por Go Nagai (Crossovers), bem como em outras obras.
O mangá também serviu de inspiração para criação de personagens. No jogo eletrônico Darkstalkers, Morigan Aensland e Jedah Doma são a “cara e o focinho” de Devil Lady e Devilman, respectivamente. A vilã Ragyo Kiryuin do famoso anime Kill la Kill, compartilha diversos aspectos com Silene.
Sirene e Ragyo. Supostamente devem frequentar o mesmo salão de beleza. |
Na indústria dos Hentais, é implicado pela comunidade que Chôjin Densetsu Urotsukidôji, ou A Lenda do Demônio, mais conhecido pela sua estreia no canal da Band, é a “cópia” de Devilman, o que soa como engano. O anime pornográfico Nightmare Campus, possui grande influência no trabalho de Nagai, seja pelo enredo, ou na construção dos personagens. Kenji Hayama que trabalhou como character designer no hentai, participou nos projetos Getter Robo Armageddon e Mazinkaiser, ambos do acervo de Go Nagai.
Em entrevista, Hideaki Anno comentou que a conclusão do filme The End of Evangelion foi levemente inspirado no final de Devilman, mesmo que o diretor não tenha feito conscientemente.
A banda MAN WITH A MISSION lançou um álbum intitulado Tales of Purefly. Devilman, Amon e Zennon são apresentados no clipe da música When My Devil Rises.
Devilman não teve sua popularidade apenas no Japão, e começou a invadir outros países. Em 1995 a editora Verotik, fundada pelo músico Glenn Danzig, começou a distribuir Shin Devilman nos Estados Unidos. Apesar de o roqueiro nunca ter comentado, o quadrinho Satanika, publicado no mesmo ano, tem forte semelhança com Devilman Lady. Aliás a personagem da hq parece uma Jun Fudou com esteroides.
A Mulher Demônio da Verotik. Satanika Anime Storyboards. |
Danzig, em uma parceria com o estúdio Mad House, pretendia lançar uma versão em anime de Satanika, porém, o projeto não decolou por questões financeiras. O único material animado da série é um trailer que pode ser encontrado no Youtube, junto com a entrevista dos envolvidos.
White Zombie, na canção Super-Charger Heaven, referencia o nome Devilman no refrão. A música faz parte do álbum Astro-Creep: 2000.
8. Considerações finais:
Por mais que Devilman seja uma obra bastante discutida, além do seu tema principal soar saturado e repetitivo, ainda permite muitos desdobramentos. Mesmo após 50 anos de seu lançamento, continua incomodando, mas também impressionando, pois parece estar cada vez mais pareado com nossa realidade. É incontestável que o homem demônio ganhou uma fama em proporções que nem o próprio Go Nagai imaginou.
Kanch0me
Kanch0me (Arthur Felipe Valença) é formado pela Federal Rural de Pernambuco em Biologia, além de técnico em informática. Atualmente é estudante de Licenciatura. Entusiasta da indústria cinematográfica e amante de animes, mangás, HQs e videogames.
Cargo: Escritor
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