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Resident Evil | Review

 



Diretores: Rachel Goldberg, Bronwen Hughes, Rob Seidenglanz Batan Silva

Ano: 2022

Resident Evil da Netflix conta a história de Jade Wesker em 2036, que sobreviveu a um surto viral responsável por dizimar e transformar a maior parte dos seres vivos do planeta em zumbis, restando apenas 15 milhões de humanos no mundo, enquanto buscava um tratamento para o vírus Jade acaba sendo atacada e sequestrada, com sua missão comprometida a única opção restante é fugir para a sua base enquanto enfrenta monstros, grupos de sobreviventes e a própria Corporação Umbrella. Em paralelo a série conta uma história de quatorze anos atrás em 2022 envolvendo Jade, sua irmã Billie, e seu pai Albert Wesker, residentes da New Racoon City, lugar onde a empresa responsável por um desastre vinte e quatro anos atrás tenta se reerguer criando um medicamento chamado Joy, que tem como princípio curar a depressão, ansiedade, entre outros problemas psicológicos graves.
A trama se passa em uma linha do tempo que segue os mesmos acontecimentos dos games até Resident Evil 5, porém não tenta se conectar diretamente com o material original, utilizando daquele universo para criar sua própria história, sem buscar apoio em personagens icônicos ou conexões diretas com os jogos.

Começando pela história de 2022 a série tem um enredo interessante onde vemos as garotas vivendo em uma sociedade utópica onde o ar e a água são limpos, os carros não causam poluição e a comida é totalmente natural e saudável, mas apesar de todas as maravilhas ao seu redor as irmãs além de carregarem um passado cheio de complicações elas precisam lidar com os problemas atuais da sua adolescência, sendo Billie quem mais sofre devido aos seus acessos de raiva constantes. Conforme as meninas vão se envolvendo em mistérios que rodam sobre a cidade e a figura de seu pai esses conflitos só vão aumentando, gerando brigas familiares que envolvem traumas e depressão.

Apesar de todo seu potencial a série se perde ao usar dos mesmos conflitos constantemente para prolongar a sua trama, são incontáveis as vezes que Billie e Jade brigam pelo mesmo motivo em um único episódio, e seja por preguiça ou falta de inspiração no roteiro as irmãs sempre se reconciliam da mesma forma, terminando todas as brigas dizendo que estarão juntas para sempre.

A série também não se esforça para que criemos simpatia pelas personagens, é algo tão superficial que dá para ver o diretor falando com seus roteiristas em quais momentos eles precisam nos comover ou ficar do lado das protagonistas, utilizando de situações delicadas como bullying e depressão como uma forma barata de desenvolvimento e amadurecimento particular de cada uma.

Os personagens adultos também não tem muita coisa para acrescentar na trama, a vilã principal Evelyn Marcus é tão canastrona quanto uma antagonista de novelas mexicanas com direito a sorrisinho maléfico e risada macabra, já Albert Wesker que tem o maior potencial de todos como personagem da série fica preso ao mesmo dilema durante a história inteira, deixando o personagem na estaca zero até o fim.

Já a história de 2036 é tão descompromissada que por fim acabou me entretendo, existe essa mistura de mundo pós apocalíptico elevado ao extremo como foi visto em filmes como Guerra Mundial Z ou os próprios Resident Evil de Paul W. S. Anderson a partir do quarto filme, uma mistura de zumbis, monstros, grupos hostis em uma pitada de Mad Max, a trama pula de um drama adolescente cansativo para uma road story cheia de cenas de ação ao maior estilo "trash" dos anos 80, remetendo bastante a Evil Dead.

A história particular de Jade nessa cronologia também é mais interessante do que o seu passado, não só aqui temos uma justificativa plausível para seu comportamento violento e instinto de sobrevivência egoísta como a atuação de Ella Balinska é visivelmente melhor direcionada do que a sua versão adolescente, por alguns momentos me deu a impressão de que os realizadores estavam bem mais interessados nessa parte da trama do que na outra, aqui existe uma leveza por parte do roteiro, sem amarras a formulas das séries adolescentes, todo mundo parece estar mais confortável para atuar.

Com isso entro no grande problema dessa série que é exatamente as tramas paralelas, conforme eu disse na sinopse a primeira abre nos dizendo o que aconteceu no passado para que o mundo esteja quase destruído, por esse motivo a história das personagens jovens é cansativa, o interesse em ver como aconteceu é bem maior do que ver a relação pessoal dessas personagens, e como eu havia dito, é tão lento e repetitivo que parece estar segurando o telespectador apenas para termos o tempo exato que um episódio normalmente tem.

A linha cronológica do passado por ser tão presente na série impede que a futura tenha um desenvolvimento maior e caminhe sozinha pois existe algo que supostamente precisamos ver para que as ações das personagens mais velhas façam sentido, porém tanto Jade quanto Billy do passado não tem nenhuma motivação, objetivo ou bom desenvolvimento para que acreditemos que as personagens de 2036 se tornaram o que são. E como se já não fosse ruim, diversos momentos é citado o que aconteceu entre ambas as histórias apresentadas em tela, acontecimentos esses supostamente importantes para a evolução pessoal das protagonistas, um desenvolvimento fora de tela que parece ser mil vezes mais interessante do que é mostrado.

Outra coisa que devo discutir é o antigo debate sobre material original comparado as adaptações, para muitas pessoas qualquer mudança é prejudicial ao material base, às vezes até mesmo um desrespeito com ele, mas eu acredito que o mais importante para uma adaptação não é a fidelidade com a história ou personagens originais fazerem parte das versões criadas para as outras mídias, para mim o mais importante de uma adaptação é manter os temas abordados pelo criador original, sobre o que aquele título se trata e o porque fala daquilo.

Resident Evil apesar de ser conhecido pelo seu gênero terror nos games ele não é exatamente sobre zumbis ou monstros, mas sobre investigação policial, terrorismo e conspiração política. Se olharmos toda a história da franquia desde o primeiro game até o último lançado veremos que isso existe em todos os títulos canônicos da saga, e aqui na série apesar de apresentar isso em um momento, ele é descartado para o segundo plano como se não importasse, e devemos lembrar que como ela se passa no mesmo universo que os games até um certo ponto, como a Umbrella Corporation foi capaz de se reerguer após o desastre de Raccon City e não existe nenhuma investigação por parte de organizações antiterrorismo como a BSAA em cima da empresa?

E mesmo que seja abandonada todas as comparações com o material original, algo que eu fiz quando embarquei na série, ela ainda não se sustenta pelos problemas que eu citei anteriormente, deixando de ser uma história descompromissada e divertida para um drama adolescente sem nenhum impacto ou relevância.

Acredito que deve ser levantado nessa Review que a qualidade da série não é uma culpa exclusiva da Netflix, é muito comum acharmos isso pois é um produto original de seu catálogo, mas devemos lembrar que existe uma parceria entre a Constantin Film e a Capcom desde o primeiro filme lançado em 2002, e segundo o contrato fechado pelas empresas a Constantin não pode lançar nenhuma produção sem a aprovação da detentora dos jogos, o que me entristece muito como um fã já que de acordo com ela esse é o melhor que uma das suas maiores franquias e por consequência nós fãs merecemos.

Eu acredito que haverá uma continuação dessa série já que ela está indo muito bem de audiência mesmo estando rodeada de críticas negativas, e provavelmente um público mais jovem vai se identificar com a trama das garotas, o que pode gerar diversos elogios e incentivo da Capcom para continuar com ela, mas por enquanto o veredito para Resident Evil da Netflix é autossabotagem.

Solid_Mateus


Mateus, amante de Cinema AlternativoFilme BExploitation, e o maioir defensor de diretores odiados pela crítica especializada. Nas horas vagas sou Otaku, mas isso é segredo.

Cargo: Escritor

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