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Universo de Filmes Animados da DC Comics | Artigo

Quando Liga da Justiça: Ponto de Ignição foi lançado os fãs não tinham conhecimento de que aquele seria o prelúdio de um grande projeto da DC Comics, trazendo uma longa jornada de filmes compartilhados no mesmo universo, isso porque após o fim do universo de séries animadas da DC sendo algumas delas Batman: A Série Animada, Super Choque e Liga da Justiça: Sem Limites, a empresa passou a lançar diversas adaptações em filmes animados de seus quadrinhos mais consagrados, então era de se esperar que esse fosse apenas mais um, mas foi no ano seguinte com Liga da Justiça: Guerra que veio o anúncio de um novo universo.

Neste pequeno ensaio eu gostaria de comentar alguns dos filmes, como a saga foi conduzida, onde eles acertam e o porquê deu errado.

Após o sucesso de Ponto de Ignição que se manteve bem fiel ao material original, Guerra aparece mostrando sobre o que aquele universo se trataria, influenciado pela era dos Novos 52 nos quadrinhos os maiores heróis da terra teriam todas as características conhecidas pelos fãs mais recentes da editora, Superman agora era não só extremamente poderoso mas como passou a ter atitudes que cruzavam os limites da ética de um super herói, Mulher Maravilha se comportava muito mais como uma guerreira medieval e shakespeariana do que como uma mulher gentil que veio corrigir os erros dos homens, e o Batman não era apenas um vigilante noturno mas o mais edge possível. A violência era exagerada, a sexualidade era bem mais ousada e palavrões passaram a quebrar o tabu nos diálogos que os heróis mais populares não ousariam falar anos atrás.

Por mais que essa abordagem desses personagens parecesse interessante qualquer tensão ou engajamento com a audiência é perdido quando o roteiro tenta forçadamente nos colocar em uma sensação de perigo global constantemente, nesse segundo filme os personagens acabaram de se conhecer e além de uma disputa de ego clara não havia nenhum entrosamento entre eles, então usar Darkseid, a maior ameaça do universo DC como primeiro inimigo é uma decisão muito abrupta, por mais que a presença do vilão logo de antemão fizesse sentido posteriormente aqui ele se torna um inimigo da própria narrativa, afinal se a maior ameaça do universo foi derrotada na primeira vez em que esses personagens se uniram porque eu deveria me preocupar com o que vier depois?

Seguindo para O Filho do Batman temos a primeira história isolada do universo, Batman descobre que teve um filho com sua antiga amante Talia Al Ghul, essa que havia perdido recentemente o líder do seu clã, não deixando outra opção para ela além de deixar o filho aos cuidados do pai. O morcego passa a cuidar e disciplinar o rebelde Damian Wayne enquanto descobre o peso da paternidade.

A saga de Bruce com seu filho é a maior e mais interessante de todos os 16 filmes, mas junto dela veio dois grandes problemas bem transparentes, o primeiro é o excesso de filmes do Batman ou que tem o personagem como parte central da trama. Quando Bruce Timm popularizou o morcego em 1992 com sua série animada ele sabia que o Batman seria cada vez mais requisitado pela empresa e pelos fãs, então quando a série animada da Liga da Justiça surgiu em 2001, ele junto de seus parceiros garantiram de usar o personagem da maneira mais equilibrada possível, afinal eles estavam contando a história de um grupo e não de um único membro, mas os realizadores dessa saga não seguiram o conselho dado pelo seu superior anos atrás, então aproveitando-se da popularidade do personagem com a recente trilogia de Christopher Nolan e a saga Arkham nos games, passaram a bombardear o Batman nesses filmes.

A primeira vista isso não parece ser um problema, afinal todos os jovens gostavam do Batman então ele ser o líder em diversas histórias é o esperado, mas quando pensamos em DC Comics é a trindade que vem a nossa mente, afinal por mais que as pessoas não tenham consumido nada desses personagens todos conhecem a figura do morcego tanto quanto a do Superman e da Mulher Maravilha, mas diferente do personagem central os outros membros mal recebem destaques nesses filmes, o primeiro teve apenas dois filmes e a terceira um filme completamente esquecível, então você ter dúzias de personagens mas colocar todo seu esforço e tempo de tela em apenas um é no mínimo uma perda de oportunidades.

E mesmo essa grande saga da Família Batman sendo um dos focos ela é bem desajeitada, o assunto principal dela é a relação entre Bruce e Damian, como o filho foi criado pela liga dos assassinos e isolado de todo o mundo ele tem uma péssima perspectiva de heroísmo e empatia, e ao longo dos filmes o pai tenta corrigi-lo incessantemente, mas os roteiristas a todo momento dão um reset no personagem, mesmo que ao final do filme anterior ele tenha aprendido lições valiosas como não matar ou nunca agir por impulso no próximo ele está sempre sofrendo dos mesmos problemas, e o mesmo vale para o Batman que por mais que seja o detetive mais inteligente do mundo e o melhor combatente humano está sempre perdendo para armadilhas semelhantes com as quais ele já havia lidado.

Outro grande problema que a saga do Batman tem que acabou se espalhando para todos os filmes é a introdução abrupta de personagens novos, eles aparecem para cumprir suas funções em determinadas cenas e depois perdem seu propósito, como a união da Família Batman que nunca mais teve seus filmes individuais ou sequer momentos únicos nos filmes posteriores, isso pode advir da ideia de que os realizadores confiam em sua audiência o suficiente para saber quem são esses personagens e suas histórias, afinal como fãs a maioria já havia consumido quadrinhos, séries animadas e live-action, mas até mesmo cenas pós créditos que nos preparam para futuros filmes ou grandes participações são descartadas a esmo, como a de Batgirl ao final de Batman: Sangue Ruim que deixou portas abertas para uma grande atuação na saga, reduzida para uma cena.

Mas se Batman era o grande carro chefe desse universo baseado em uma visão edge desses personagens, como eles poderiam preencher os espaços entre a última e a próxima aparição do morcego? Bom a carta na manga era óbvia, John Constantine, introduzido em Liga Da Justiça Sombria o universo de Hellblazer estava estabelecido como o segundo fio condutor dessa grande saga, e devo dizer que aqui eles acertaram na mosca por algum tempo, afinal se havia um universo no mundo dos quadrinhos que trabalhava bem esses temas era o criado pela editora Vertigo. O time secundário da Liga serviria para cuidar de assuntos dos quais os heróis principais não tinham conhecimento ou meios de resolver, isso possibilitou histórias mais isoladas que serviam como um momento para respirar de todo o caos criado pelos demais filmes, e o mesmo pode ser dito para o time dos Jovens Titãs que ganhou destaque considerável resolvendo problemas que estavam longe do alcance da Liga da Justiça.

Mas a palavra escala deve ser usada com cuidado quando se trata do DCAMU, pois na maioria dos filmes os heróis lidam com um vilão que quer dominar o mundo ou tem potencial o suficiente para destruí-lo, porém com a passagem de tempo de cada filme fica entendido que enquanto não víamos as grandes ameaças em tela os heróis cuidavam de problemas menores, então nem toda a semana tinha alguém para destruir o mundo eles só escolheram não nos mostrar isso, o que se mostrou uma péssima escolha já que super heróis não nos conectam através de grandes lutas e poderes legais, é claro que isso é sempre bem-vindo em tela para entretenimento momentâneo mas o que faz desses personagens tão interessantes são seus dilemas pessoais e como lidam com eles ao mesmo tempo que precisam salvar o mundo.

Eu quero usar de exemplo um dos melhores filmes dessa saga, em A Morte do Superman eles se desvincularam da visão dos Novos 52 e usaram uma história clássica do Homem de Aço, nesse filme antes de acontecer o que já sabemos no final nós finalmente conhecemos Clark Kent e o porque esse homem é a esperança do mundo, quem consome qualquer grande produto recente do personagem acredita na ideia de que o Superman é incrível pois ele é poderoso e por isso ele é bom, mas na verdade ele é um bom homem graças a sua vida como humano, por mais que tenha vindo de outro planeta Clark foi criado por bons pais que o ensinaram valores e respeito, por isso mesmo sendo o homem mais poderoso do mundo ele age como qualquer outro bom cidadão.

O filme faz questão de nos mostrar bem devagar o dilema em contar para sua namorada Louis sua verdadeira identidade, o medo das pessoas saberem quem ele é e rejeitá-lo por ele não ser o deus criado no imaginário popular graças aos seus feitos heroicos, são pequenos detalhes desde pedir conselhos a sua antiga namorada Diana que também demorou anos até se adaptar no mundo dos homens até mesmo ouvir a palavra de bons pais que o incentivam a não ter medo de confiar em quem ele ama. Quando o filme passa para a ação sentimos na pele que ele é a última esperança, mesmo para os heróis mais poderosos e inteligentes como Mulher Maravilha e Batman, e quando luta contra seu inimigo as cenas priorizam a perspectiva de Clark na batalha, fazendo o possível para não atingir nenhum local com civis e caso aconteça priorizar salvá-los do que continuar a luta.

Isso remete às histórias mais clássicas de super heróis, isso nos faz acreditar que as pessoas realmente confiam nesse personagem e que ele é sim um exemplo, não só um homem forte em uma capa, subversão de ideias é interessante mas é difícil aceitá-las sem que esses personagens mal tenham tido tempo de tela para nos mostrar essas reviravoltas em suas personalidades acontecendo, e é exatamente isso que acontece posteriormente, toda essa construção de Clark nesse filme é jogada fora nas sequências para retomar a versão "cool" desses personagens.

Mas quais são os outros grandes acertos desse universo? Bom eu não diria que ele é ruim, mas os seus pontos baixos infelizmente se sobressaem quando analisado por inteiro, aliás um dos seus momentos de grande acerto é quando trabalham com personagens que em sua essência foram criados para algo mais violento ou anti-heroico, como o já dito Constantine e o infame Esquadrão Suicida: Acerto de Contas, tendo em sua mão um panteão de personagens secundários, descartáveis e politicamente incorretos, esse era o prato cheio para os roteiristas fazerem o que bem entendessem com a história, e eles não nos decepcionam quando tem total controle do rumo do filme, o longa da Força Tarefa X é de longe o mais competente e bem acertado de toda a saga, me deixando com a dúvida de se eles queriam tanto assim serem o mais sombrios possíveis com seus personagens porque não fazer isso desde o começo sem as limitações de que personagem x não pode morrer ou personagem y precisa ter tal comportamento para termos conflito no filme? Afinal o universo começa com a obliteração do planeta terra e o inimigo mais forte dos heróis ameaçando o mundo, então não teria o porque prolongar tanto algumas narrativas e dilemas pessoas de personagens se a intenção era chocar e ter histórias pessimistas.

A impressão que tenho é que a Warner Brothers estava preocupada em como fazer esses filmes terem o maior hype possível fazendo menções aos filmes do Universo Cinematográfico da DC, jogos e séries.

Em 2013 os personagens estavam ganhando popularidade devido ao game Injustice: Gods Among Us então temos uma referência a possibilidade desse Superman cruzar a linha da ética, em 2017 temos o filme Liga da Justiça lançando nos cinemas então é lançado uma animação da Liga feita nas "coxas", as séries da DC da CW estavam dando grande destaque a heróis secundários então fazem o mesmo com os Jovens Titãs, mesmo com o fracasso de críticas o filme Esquadrão Suicida ganhou o mundo em 2016, principalmente os personagens da Arlequina e Pistoleiro então temos um filme animado onde os dois tem grandes momentos.

Uma narrativa bagunçada que parecia querer surfar junto das demais mídias da empresa além da inconstante qualidade das animações, em algumas delas estando muito boas e em outras bem fracas por mais que mantivessem o mesmo traço, mas isso era óbvio que viria a acontecer afinal mesmo com esse universo compartilhado a DC nunca parou de lançar filmes adaptando os quadrinhos que tivessem histórias fechadas.

No fim esse universo só parece ter encontrado o seu caminho quando se encaminhou para seus últimos filmes, mas graças a toda a falta de planejamento muitos dos problemas que haviam sido apresentados foram resolvidos com as soluções mais fáceis possíveis. Mas graças ao final de Liga da Justiça Sombria: Guerra de Apokolips os fãs podem respirar já que temos um novo universo para acompanhar, o Tomorrowverse, que já se encontra na sua quarta animação, dessa vez feito com muito mais calma e fidelidade aos personagens clássicos, além de ter um traço único que os destaca de qualquer outra animação da DC.

Eu recomendaria o Universo Animado Cinematográfico da DC para quem já é fã de antemão da editora e tem conhecimento de quem são os personagens em geral e talvez porque ele tenha alguma repercussão na nova saga animada que está acontecendo, mas no geral são histórias fracas que por mais que tenham seus momentos legais elas acabam sendo em sua maioria esquecíveis.

Solid_Mateus


Mateus, amante de Cinema AlternativoFilme BExploitation, e o maioir defensor de diretores odiados pela crítica especializada. Nas horas vagas sou Otaku, mas isso é segredo.

Cargo: Escritor

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