Looking For Anything Specific?

" />

The Batman | Review



Diretor: Matt Reeves

Ano: 2022

Nessa nova abordagem do cavaleiro das trevas, Batman está atuando a dois anos como vigilante em uma Gotham City afundada em crimes e corrupção, indignado com o fato de mesmo lutando todas as noites a situação da cidade não melhorar, Bruce Wayne começa a se questionar sobre os métodos que tem usado e como pode ser mais eficiente, mas antes que chegue em uma resposta ele é obrigado a lidar com um criminoso misterioso auto denominado Charada, que não só assassina a suas vítimas de maneira sádica mas cria enigmas em cada cena do crime.


The Batman foi uma experiência muito satisfatória, eu já esperava um grande filme vindo de Matt Reeves que até então nunca havia me decepcionado com seus trabalhos, mas quando finalmente pude ver sua abordagem do clássico herói na tela eu não poderia ter ficado mais contente com o caminho que ele decidiu seguir.


Na Gotham desse universo o diretor decidiu colocar todas as coisas terríveis que abalam os cidadãos em uma escala ainda maior, a cidade é suja, feia, um lugar terrível para se viver e mais difícil ainda para fugir dela, tanto sua estética quanto a sua arquitetura representam muito bem toda a corrupção, segregação de classes e número alto de crimes. Com o passar do filme a cidade fica cada vez mais bizarra, por exemplo, mesmo de dia com o sol mais forte nos céus, tudo é escuro, sem vida. E não existe uma noite onde não chova em Gotham, cada vez mais forte, trazendo uma melancolia tanto para quem ali vive quanto para os telespectadores, não houve um momento em que eu não tenha sentido pena por todos os cidadãos da cidade.


E falando em melancolia eu emendo a composição de Michael Giacchino, o compositor teve um trabalho difícil ao ser chamado para a trilha do longa, afinal como competir com os temas anteriores que fizeram do personagem algo tão icônico que apenas de escutá-los conseguimos sentir sua presença? A resposta que Michael deu para esse desafio foi a seguinte, ao meu ver ele claramente se inspirou na Marcha Fúnebre composta por Frédéric Chopin, Michael cria um tema não só para o vigilante como para toda a Gotham, variando o tom do seu tema de acordo com a situação, gerando assim uma sensação intencional de tristeza e estresse que te acompanha durante o filme inteiro, o que se encaixa muito bem com a escalada que o filme dá, se tornando cada vez mais caótico e sem esperança.


Com sutileza, Michael decidiu dar toques especiais a temas específicos de personagens vitais da trama, a Mulher Gato por exemplo tem notas suaves de piano que remetem a suas origens na tela na série Batman (1966) dirigida por Leslie H. Martinson, já com o Charada o compositor foi um pouco mais ousado ao escolher uma música já consagrada, essa sendo Ave Maria em Gregoriano, que apesar de ser uma música suave e completa de doçura aqui se torna um pesadelo sempre que é escutada, deixando qualquer situação desconfortável ainda mais bizarra por ter uma oração cantada ao fundo.



Analisando os atores, é sempre difícil para o estúdio anunciar um novo Batman, isso acontece desde o filme de 89 quando anunciaram Michael Keaton como o morcego de Gotham, por ser um personagem tão querido pelos fãs e a Warner Brothers já ter cometido erros grotescos com o personagem, essa cobrança de quem seriam os representantes dele passou a ser cada vez mais pesada, e quando Robert Pattinson foi anunciado para a nova encarnação a internet veio abaixo.

Não é novidade para ninguém que acompanhe cinema com mais profundidade que a anos Robert se tornou um ator esplêndido, afinal depois de ficar rico e famoso com o final da saga Twilight o ator tomou a liberdade de pegar papéis cada vez mais difíceis, tanto para se desafiar quanto para fazer o que sempre quis, viver o cinema. Mas é claro que para o público casual a imagem do vampiro Edward ainda era muito forte, mas devo dizer que Pattinson foi monstruoso em sua encarnação de Batman, o personagem além de sinistro e brutal, tem uma presença forte em tela. É notório que ele foi criado para ser esquisito, afinal não deveria ser normal para ninguém ter um homem fantasiado investigando as cenas de um crime ou batendo em criminosos na rua, é como se a todo momento mesmo em cenas épicas que costumamos saltar da cadeira, ele sempre aparenta estar fora do lugar, sempre sendo alvo de curiosidade, desconfiança e temor, que é a maior arma do Batman para lutar contra o crime.


O vigilante que Matt Reeves criou é sensacional, com todas as suas emoções a flor da pele por conta de seus traumas passados e o estresse de não estar fazendo a diferença que queria em Gotham, esse Batman se torna violento, tanto no seu estilo de luta quanto na maneira que lida com as situações mais delicadas. Ele não evita ser atingido pelos inimigos, muito pelo contrário ele sempre vai para cima do maior número de oponentes possível, terminando-os com o menor número de golpes que puder dar e propositalmente machucando-os com a esperança de que aquilo gere um medo que os façam desistir de desacatar a lei de novo.


Toda essa violência não está em tela à toa, esse Bruce Wayne é o mais amargurado e ranzinza que tivemos em tela até então, mergulhar de cabeça nesse mundo pode parecer ser a superação de seus medos, mas na verdade é apenas uma forma de fugir deles, enchendo seu corpo e o dos outros de feridas que no final não levam a resultado algum, as vezes sendo até pior que isso, apenas violência por violência.


Falando em Bruce Wayne, e ressalto aqui que são poucas as vezes em que vemos o personagem sem o uniforme, Pattinson entrega um homem completamente antissocial, Bruce está tão focado em sua missão de mudar a cidade que ele não se reconhece mais como um ser humano comum, estar acordado de dia para ele é um incômodo, conversar com pessoas é inviável já que mal consegue se expressar em conversas casuais, é triste olhar para Wayne já que mesmo o seu amigo mais fiel Alfred, não consegue alcançar aquele que deveria ser seu protegido e responsabilidade máxima.




Alfred também tem uma visão diferente do que estamos acostumados a ver, ele sempre foi de certa forma um ajudante de Bruce, seja sendo seu médico particular ou fazendo investigações enquanto o Batman combate o crime, mas aqui Andy Serkis entrega um mordomo que não é apenas mais áspero como também contra a ideia de vigilante noturno, não por colocar Bruce em perigo, mas por esse nunca se portar como um Wayne, e que não fazer nada pela cidade com o poder que tem em mãos é um desperdício já que o Batman não ajuda em nada. Contudo Alfred não resiste a ajudar o seu protegido, e nisso mostra que essa versão do personagem tem um passado bem mais peculiar que o comum, com habilidades altíssimas de investigação ele se mostra um detetive tão bom quanto seu patrão, achando as respostas exatas para alguns dos enigmas.


E se Alfred é contra as ações do Batman, James Gordon é totalmente o contrário, ele é o único que aceita a presença dele nas investigações e no combate ao crime, apesar de ainda ter uma leve desconfiança por não saber quem é o homem por trás da máscara Gordon entende que naquela cidade é necessário sujar as mãos às vezes para que as coisas funcionem, e ele por ser um homem honesto e incorruptível entende que o único que possa fazer isso sem se comprometer é um vigilante que apesar de seus métodos duvidosos deixa claro de que está do lado da justiça. Jeffrey Wright entrega a melhor encarnação do personagem até então, e quer tenha sido intencional ou não, a mudança de etnia dele cria um impacto significativo para a obra já que uma das coisas que essa Gotham tem de pior é que a pirâmide de corrupção criada por homens da mais alta classe, sendo esses brancos, atingem principalmente os mais pobres, incluindo desabrigados, estrangeiros e pessoas com outros tons de pele, então nessa sociedade segregada por classes um dos poucos homens honestos que trabalham no despertamento de polícia ser um senhor de pele negra, no mínimo trás uma discussão relevante, principalmente para a realidade americana.




Outra grande mudança que a fez virar um destaque no filme é Selina Kyle interpretada por Zöe Kravitz, a atriz entendeu muito bem quem é a Mulher Gato nos quadrinhos, e devo dizer que como um fã eu me senti vendo a personagem das revistas criar vida sempre que ela aparecia em tela, entregando o melhor de uma femme fatale, ao mesmo tempo em que é sexy e sedutora, é também um grande perigo para qualquer um devido a sua imprevisibilidade e manipulação de emoções, e felizmente Reeves não deixa a personagem cair no que já é esperado desse arquétipo, e faz a Mulher Gato ser muito maior do que já foi em qualquer longa do Batman.

É a primeira Mulher Gato que realmente merece um filme próprio, peço perdão a talentosa Halle Berry por isso mas Kravitz está em outro nível nesse papel, diferente de Gordon, a origem de Selina impede ela de não se corromper e cometer atos duvidosos, por mais que ainda mantenha sua honra ao ponto de não ferir ou atacar ninguém diretamente, ela acredita e com razões para isso que a única maneira de sobreviver naquela cidade é tirando dos bilionários, e curiosamente nós sabemos disso não por atos do filme, mas por diálogos sutis, o diretor teve a cautela de não mostrar ela fazendo seus roubos de dinheiro e focar na sua jornada que consiste em entender como parte dessa corrupção está afetando ela e sua parceira de convivência, o que a faz juntar forças com o Batman já que seus inimigos são os mesmos.

A química dela com o morcego é ótima, fica claro que Robert e Zoë criaram essa afeição de forma natural, o que nos deu cenas e diálogos maravilhosos sempre que ambos personagens estão em tela, com muito mais segredos que eu não posso revelar nessa review, garanto que o filme vale a pena tanto pelo Batman quanto por ela.




Neste filme temos três vilões, começando pelo menor deles e ainda assim fantástico, Oswald Cobblepot, o Pinguim, o motivo de eu usar o nome real dele antes de seu apelido é que segundo o próprio diretor, este ainda não deve ser visto como o grande vilão de Batman, e de fato, aqui Oswald é apenas um capacho de um inimigo maior, mas devo dizer que todo o tempo de tela que foi dado para Colin Farrell foi muito bem aproveitado, além da maquiagem incrível que foi feita deixando o ator totalmente diferente, sua atuação está fora dos limites, o personagem é quase que um piadista contra o Batman, o provocando a todo momento pois sabe que mesmo tendo os seus dedos podres o vigilante ainda não tem nada que o faça ser entregue à polícia. Frases de efeito, alívio cômico e um carisma gigantesco, aqui fica uma ótima adição ao filme que felizmente não foi feito por um capanga qualquer, estabelecendo o futuro de um dos próximos vilões principais nas sequências.



O segundo vilão é responsável por trazer a tona o tema principal do filme, Carmine Falcone é um ser hediondo nessa trama, o vilão é a personificação dos homens cruéis com dinheiro em mãos, e por mais que soe genérico ainda assim é eficaz já que John Turturro fez questão de fazer um personagem nojento, a todo momento que ele aparece em tela é normal sentir repulsa, a maneira que fala de seus crimes sabendo que nada pode o atingir, como trata as pessoas sempre com elas na palma das mãos, é tudo tão próximo de homens parecidos que temos em nossa realidade que tudo bem ser um personagem com traços genéricos, foi o suficiente para fazer dele um grande inimigo, já que este consegue ser um incômodo não só para Batman e Gordon, quanto para personagens terceiros na trama.



Eu nunca pensei que diria isso, talvez porque eu nunca tenha visto uma adaptação ou história desse personagem em que ele se mostre uma ameaça real, mas dou os meus parabéns a Paul Dano, pois a sua interpretação fez Charada por alguns momentos rivalizar com o Coringa de Heath Ledger, sua atuação está completamente insana, não houve um momento sequer em que eu não tenha me sentido desconfortável com o personagem.

Inspirado no Assassino do Zodíaco, um caso real em que um homem desconhecido assassinou 14 vítimas reconhecidas, e nunca foi descoberto pelas autoridades, o assassino em série enviava cartas a imprensa e deixava pistas propositalmente em suas cenas de crime para "brincar" com a polícia.

Nesta encarnação além da clara inspiração, o vilão é um maníaco idealista, de alguma forma impactado por todos os escândalos de corrupção cobertos pelas autoridades, ele decide caçar todos os que de alguma forma prejudicaram e ainda prejudicam a vida dos cidadãos de classe baixa, orquestrando uma grande peça onde todos são seus peões.

Conforme vamos descobrindo o que está acontecendo junto dos personagens, nós nunca nos sentimos completamente seguros devido a imprevisibilidade do vilão, sempre tendo uma carta na manga, cria-se uma agonia no telespectador ver que o Batman mesmo sendo capaz de confrontar todos que estão em seu caminho, Charada sempre parece ser inalcançável.

Completamente perturbado o personagem perverso e violento, inspirado também em Jigsaw da franquia Jogos Mortais, tem como métodos de matar bizarros e sádicos, com a convicção de que tudo que está fazendo é limpando a cidade, e nesse quesito tanto ele quanto o Batman não são diferentes.



The Batman é facilmente uma das melhores estreias do ano, como dito anteriormente eu fiquei muito feliz com tudo que foi apresentado aqui, acredito que era isso que faltava nos filmes que encarnam as histórias da DC Comics, essa liberdade que dão para diretores talentosos criarem o que quiserem, já que a ideia de universo compartilhado apesar de divertida, acaba criando uma necessidade de continuidade sem fim, dando a sensação de que sempre que terminamos um filme parece faltar um pedaço, uma conclusão.

Com longas metragem como Aquaman, Coringa, O Esquadrão Suicida e agora Batman, fica claro que a Warner Brothers tem potencial para entregar ótimos filmes com seus personagens, basta não querer seguir o mesmo caminho que sua rival Marvel Comics, afinal existe uma maneira de criar um universo e ainda assim dar certa independência para os realizadores desses projetos, e com o sucesso do filme eu fico ansioso para ver o que virá depois, e digo que se for metade do que vimos aqui, serão muito bem vindos.


Solid_Mateus


Mateus, amante de Cinema AlternativoFilme BExploitation, e o maioir defensor de diretores odiados pela crítica especializada. Nas horas vagas sou Otaku, mas isso é segredo.

Cargo: Escritor

Redes sociais:        

Postar um comentário

0 Comentários