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Em prol do estilo, e não da lógica | Bishounen Tanteidan | Review


Sinopse: A história segue a protagonista Mayumi Doujima, uma estudante problemática que acaba se envolvendo com um grupo de 5 detetives, e os ajudando a resolver problemas e mistérios dentro da escola. O que Doujima não esperava, era que, mesmo sendo os garotos mais bonitos da escola, nenhum dos 5 é normal, tendo personalidades excêntricas.

Direção: Akiyuki Shinbou

Studio: Shaft

Quantidade de episódios: 12

Temporada: Primavera 2021

Em Bishounen Tanteidan, o real encanto está no mistério e na beleza dos momentos, e não em seus desfechos.


Toda essa beleza e estilização não tem um proposito que vá além de ser bonito e estilizado. O anime esvazia tudo o que pode existir de dramático e lógico, e foca apenas naquilo que os acontecimentos em si podem proporcionar. Fica evidente que o anime tem um discurso e um tema objetivo, mas esse busca também confundir o espectador sobre a sua real intenção. A sua narrativa, lógica e conclusão são vazios, mas o tema principal não.

Se pensar em algumas convenções e princípios (ou regras, como os mais radicais e limitados insistem em dizer que existe), Bishounen Tanteidan é um anime construído de forma “errada”. Ele propõe diversos mistérios e possibilidades, mas não concluí nenhum deles de fato. Os personagens não são humanos, profundos, complexos ou dramatizados. Toda a relação do anime tem um objetivo, e como ele próprio diz, de ser bonito e instigante.

 

Nessa construção plástica e estilizada proposta pelo diretor, os cenários, mistérios e personagens fazem parte de um estilo muito singular que busca sempre o vazio em relação ao realismo. Então, não existe motivo para os personagens terem um desenvolvimento ou drama mais profundo, na realidade, eles acabam servindo mais como objetos dessa composição. Desumaniza-los faz mais sentido do que os tornar humanos. A única personalidade que existe neles é essa mais ilustrativa, que também afasta eles da realidade.

A cor e palheta de cores vibrantes dos personagens se misturam com as dos cenários, fazendo algumas composições interessantes. Esses planos também reforçam a ideia de tratar tanto os personagens, como os cenários com uma importância única e estilizada.


O realismo em Bishounen Tanteidan é visto com algo feio e assustador. O último episódio traz o realismo como algo a ser temido. Uma existência que tenta subjugar o que é prazeroso por si só. Aquilo que explica; que revela a verdade – o significado final – nesse último episódio, é um vilão. Uma existência que explica como o mistério do acidente de fato aconteceu, e retira a beleza que o mistério trazia. A beleza está no mistério, na dúvida, nas várias visões e interpretações que podem ou não estar certas, mas o que importa de verdade é que são bonitas. E em Bishounen Tanteidan, a verdade não importa. A verdade e a lógica tiram a beleza do mistério do universo. A magia está em aproveitar os momentos, e não em entende-los de fato.

 


Ao esvaziar o que os/as personagens são em uma questão dramática e humana – e transforma-los em objetos em cena, ele retira a moral dos acontecimentos e dos seus personagens. O último episódio também é sobre isso. Encontrar e procurar uma estrela; investigar o segredo de um cassino; decifrar o enigma de quadros de arte e um possível crime depois; e todos os demais mistérios no anime são fantasiosos, instigantes e belos, mas quando se trata de envolver diretamente com algo real e perigoso como a morte, não. Se formos ver como acontecem todos os mistérios, esse último do atropelamento é o que mais se aproxima de ser um crime real, e por isso, a sua “moral” é confrontada de forma realista. Mas não deveria.

Soa como uma ideia bem parecida a de Ortega sobre a arte. S.S. descreve: “Em última análise, o ‘estilo’ é a arte. E a arte não é nada mais ou nada menos do que várias modalidades de representação estilizada, desumanizada”. Como se a arte fosse uma visão desassociada do mundo, e única por si só. Visão do qual eu não concordo 100% (nem a própria Sontag), mas que aqui, eu aprecio na forma como foi confrontado no anime.

 

Esse também pode ser um comentário bem especifico e direto sobre o trabalho do Shinbou no geral (principalmente em relação a Monogatari). Enquanto que alguns tentam dizer o que é, e como se deve assistir – em que ordem se deve assistir – para entender o que acontece, acabam se esquecendo de aproveitar os acontecimentos por si mesmos. Como se um anime dele não tivesse uma moral com a realidade, e de fato fosse ambíguo nessa questão. Um universo novo que é aparte do nosso. Então, trazer a realidade ou uma interpretação limitadora para o seu trabalho, é o mesmo que esvaziar o seu mundo – é tornar ele feio e fútil. Como se: a sua experiência real estivesse em o que acontece, e não por que e como acontecem. Não estou aqui defendendo a moral e a ambiguidade dos seus trabalhos, e sim, dando uma possível interpretação do que ele pode estar tentando expressar.

Entretanto, eu não acho que o proposito seja impedir uma possível interpretação, e sim “como” deve ser interpretado. Como a obra deixa claro, a dedução do mistério dever ser bonita e fazer sentido, e não necessariamente ser a verdadeira, e é isso o que importa no final das contas. Enquanto que alguns tentam esvaziar o potencial artístico dos seus trabalhos, poucos estão realmente interessados em preservar esse mistério que tanto cativa o público.




Henrique Neves é fundador, administrador e escritor do site Casa dos ReviewersFormado na faculdade de Jogos Digitais da Universidade Nove de Julho e estudante ativo (autônomo) de linguagem cinematográfica e animação.

Cargo: Administrador/Escritor

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1 Comentários

  1. Um anime que volta-se para a beleza do irrealismo bem como para a introspecção do divertimento dos personagens que busca evitar a dura realidade da vida o que se prova verídico pois os personagens se encontram no fundamental.

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