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Diversas formas sobre uma abordagem docomental | Animentary: Ketsudan | Review



Sinopse: O anime retrata os principais confrontos entre Japão e EUA na Segunda Guerra Mundial por uma perspectiva documental e bem detalhada dos acontecimentos. Além de revelar um certo nacionalismo de ambos os envolvidos, também crítica e apresenta as consequências que a guerra trouxe para o Japão.

Direção: Ippei Kuri

Studio: Tatsunoko Production

Quantidade de episódios: 25

Temporada: Primavera 1971


Animentary: Ketsudan mostra a guerra e seus impactos reais de forma dramática, documental (e ficcional), crua, simbólica e até experimental em alguns momentos.


Não é apenas um anime que irá contar acontecimentos reais ocorridos no período da Segunda Guerra Mundial, ele vai criar uma narrativa que viaja por diversas camadas muito bem orquestradas pela direção de Ippei Kuri. Inclusive, se analisarmos Kurenai Sanshirou, 1969 e fizermos uma breve comparação entre os dois trabalhos do diretor, já é possível encontrar alguns aspectos na forma como ele trabalha com uma “semelhança” do mundo real a partir de uma história fictícia. Como quando o anime se aproveita de uma narração para introduzir essa parte informativa do que está acontecendo, e também com imagens reais do ocorrido.

Claro, em Ketsudan é possível ver uma evolução muito grande na forma e na expressividade como tal abordagem é usada. Não pelo peso do tema em si, e sim pela relação direta como o diretor aborda o tema. Uma abordagem que é muito pratica, e ao mesmo tempo formal.

O formal e o pratico que eu falo aqui tem relação direta com a forma como o anime foi produzido. É um trabalho que impressiona até mesmo pelo seu virtuosismo técnico, que para a época, é muito impressionante.


Toda a caracterização do anime tem essa abordagem muito crua e humana. Ele mantém alguns traços bastante fisionômicos de um rosto humano, tentando alcançar uma semelhança muito forte e expressiva do mundo real. E mesmo lançado em 1971, o anime não carrega aqueles traços mais cartunescos herdados de uma formação da animação japonesa propostos pelo Tezuka.

Uma humanização na caracterização tanto dos personagens, quanto dos espaços. Os navios e cenários (todos inspirados e caracterizados em navios e paisagens da Segunda Guerra) são todos muito bem detalhados e funcionalmente complexos. Você vê um canhão funcionando, um torpedo saindo de um submarino, aviões explodindo.

O anime também mistura alguns momentos imagéticos e simbólicos que casam muito bem com essa abordagem mais crua que o trabalho pede. Em um dos episódios, um soldado está observando uma mariposa indo em direção a luz. Essa mariposa morre e o anime intercala essa imagem da mariposa caindo com um avião de ataque do exército japonês. Nesse episódio em questão, os soldados se sacrificariam e morreriam em pró de um ataque que já estava planejado. E muitos já sabiam que iriam morrer.



Não apenas acontecimentos e situações, mas alguns objetos e gestos também ganham um valor expressivo muito alto, como por exemplo: as bandeiras, os navios e as espadas. Em um dos episódios em que um personagem do exército japonês morre, o anime mostra a espada deste soldado se quebrando no confronto, e em seguida uma bandeira caída no chão. Logo depois, uma imagem da espada quebrada ao lado do soldado. No episódio da morte do Isoroku Yamamoto (importante almirante Japonês na Segunda Guerra), que é morto a tiros em em uma emboscada, e encontrado com a sua espada em mãos (um acontecimento verídico). Um símbolo de resistência e orgulho ao mesmo tempo. A espada em Ketsudan e sempre mostrada e enaltecida em varias cenas como um símbolo importante e muito representativo. Em ambos os momentos citados acima, existe uma relação muito forte entre esses objetos e a vida dos soldados como soldados, que vivem e morrem pelo seu país.


Observando agora uma questão mais moral. Ketsudan não se limita a mostrar apenas uma relação heroica patriarcal dos soldados japoneses, mas também dos americanos (mesmo pesando um pouco mais para o lado do Japão – o que não é um problema, já que os EUA retrataram esses confrontos na arte com a mesma particularidade). No episódio da morte de Isoroku Yamamoto, o anime mostra como os EUA intercepta e rouba informações do exército japonês, o que ajudou os americanos terem a sua vingança por Pearl Harbor.

Meio estranho refletir que Ketsudan não apenas crítica esse horror da Guerra (principalmente no episódio final), mas ao mesmo tempo, também se fascina e encanta com todos esses acontecimentos – leva o espectador a se fascinar com o tema. A relação entre o real, o imagético, os simbolismos etc. Tudo isso é muito bem harmonizado.


Imagens reais

Animentary não é um “documentário” propriamente dito, e sim uma história narrativa que imita o real. Ele parte de eventos reais, transformando-os eles em uma espécie de ficção, como em Midway: Batalha em Alto Mar, 2019. Mas ao mesmo tempo, não deixa de ter atributos documentais para contar essa história, e isso não se limita apenas a narração que descrevem os eventos de forma mais detalhada.

Se já não bastante toda uma esquematização do anime em se associar com o real (se afastando do cartunesco, obviamente) o diretor Ippei Kuri ainda usa imagens e registros reais da Segunda Guerra. E em como toda sua abordagem, ele intercala essas imagens com momentos narrativos, conseguindo remeter mais diretamente essa expressividade do real narrativo, com o real propriamente dito. Como eu disse em Kurenai Sanshirou – onde ele também usa algumas imagens reais no primeiro episódio, e associa com a narrativa – ele evolui muito na forma como encaixa isso em sua encenação. Em Sanshirou, por ter uma relação mais voltada para a cultura pop dos filmes de ação do Bruce Lee, as imagens escolhidas por ele (as várias explosões), acabam soando meio Camp (o que não é algo ruim). As imagens escolhidas por ele agora (como aviões caindo no mar, soldados chegando em terra firme ou se despedindo de suas terras antes de combater) tem um peso mais frio e dolente. Um peso que irá interagir diretamente com o nosso subconsciente em relação aos acontecimentos.

Imagens usadas no episódio 23 de Animentary: Ketsudan



Henrique Neves é fundador, administrador e escritor do site Casa dos ReviewersFormado na faculdade de Jogos Digitais da Universidade Nove de Julho e estudante ativo (autônomo) de linguagem cinematográfica e animação.

Cargo: Administrador/Escritor

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2 Comentários

  1. Respostas
    1. Só tem ele com legendas em inglês, nesse link aqui: https://www.youtube.com/playlist?list=PLBJ-vuE_YX3H3C_TB9ZU7h8yTNxUhwry4

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