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Uma joia em três dimensões| Houseki no Kuni | Review



Sinopse: Em um futuro distante joias humanoides são constantemente atacadas pelos Lunários, os quais as sequestram para fazê-las de decoração e ornamentos. Phosphophyllite (Phos) anseia lutar contra os Lunários, mas devido sua baixa dureza e imaturidade, não pode desempenhar tal tarefa. Então, Kongo sensei entrega a Phos a tarefa de criar uma enciclopédia, no entanto ela é relutante e considera o seu dever inútil.



Diretor: Takahiko Kyougoku

Estúdio: Orange

Quantidade de Episódios: 12

Temporada: Outono de 2017
 
 
 
 
 

Cedo ou tarde animes fora do padrão surgem, e Houseki no Kuni entra nessa classe. Apesar de ser uma surpresa em sua estreia, o anime foi pouco notado e passou despercebido. Possivelmente pela falta de divulgação ou até de interesse da comunidade. Seja qual for o motivo, não vem ao caso. No entanto, tem ganhado popularidade nos últimos tempos.

O anime acompanha o cotidiano de joias antropomórficas imortais que não possuem gênero, mesmo que retenham aspectos femininos. Apesar de não estarem sujeitas as leis naturais, são deveras humanas. Sentem medo, angustia, frustração, empatia, senso de dever, vergonha e raiva. Ademais, buscam um propósito para suas vidas.

Houseki no Kuni destacou-se devido a utilização de computação gráfica (CG), estando acima da média neste quesito. Desde o princípio “Katsuhiro Takei” sempre demonstrou interesse em trabalhar com animação 3D e utilizar o 2D apenas como complemento. Animadores 2D forneceram desenhos como referência para as sequências de ação em 3D. Em cenas menos agitadas, optaram pela utilização da captura de movimento.  


 

É notável que conseguiram reproduzir a cristalinidade e o brilho das joias, assim como fraturas e rachaduras. Sendo perceptível que possuiu uma produção custosa, tanto que a staff teve seu número de membros dobrado. De 50 para 100 integrantes.
 

A trilha composta por “Yoshiaki Fujisawa” é louvável. O mesmo encaixa a música em momentos chave, criando associação entre imagem e som, além de trazer imersão para as cenas. Sunspot marca a chegada dos Lunários, parecendo uma celebração religiosa. Shinsha theme exprime o pesar e solitude da personagem Cinnabar. Battle theme entrega agitação para os elegantes combates. 

A direção de ”Takahiko Kyougoku” gera momentos dignos de menção, como o diálogo entre Phos e Padparadscha. Ocorrendo uma transição de atmosfera bem conduzida.

A cena começa iluminada e com um clima descontraído entre as personagens, mas à medida que Phos começa a arguir sobre suas desconfianças, uma música de fundo sombria começa a tocar (“Fujisawa” se destaca novamente), o cenário começa a escurecer e o semblante das personagens fica sério. Logo elas percebem que a situação estava tornando-se desagradável e encerram o assunto. O ambiente volta a ser como era antes. 

 

Ainda que tenha seus méritos em questões técnicas, o anime possui um enredo cativante. Esse é moldado gradualmente ao longo da animação, porém, bem introdutório, sendo foco o character drivin da protagonista. Contudo, o encanto de Houseki no Kuni reside em suas nuances.

O anime reproduz as propriedades e características das joias reais. A utilização da Escala de Mohs (apesar de empregada de maneira fantasiosa), produz uma hierarquia entre as personagens. Cinnabar que utiliza mercúrio (Hg) como arma, exprime que o cinábrio libera Hg, sendo um elemento tóxico para os seres. Alexandrita muda sua coloração de acordo com a luz, sendo verde em luz natural e vermelho em luz incandescente. Alex muda a cor do seu cabelo para as mesmas cores. As gêmeas Amethysts, retratam a geminação de um cristal, que é o intercrescimento racional de 2 ou mais cristais. Os nomes 84 e 33 referem-se ao ângulo (84°33”) de conexão entre os cristais.

 

Contudo, o cerne está na abordagem do tema mudança. Phos é uma alegoria ao Paradoxo do Barco de Teseu, o qual postula que se um objeto tiver todas as suas partes substituídas, continuaria sendo o mesmo objeto? A personagem está em constantemente transformação ao logo de sua jornada, tanto que a Phos do início e do final são totalmente distintas.

A direção utiliza de artifícios visuais para transmitir o impacto da transformação sofrida pela personagem. Manifestando a ideia de que mudar pode ser  algo assustador e triste, principalmente quando o que está em volta permanece idêntico.

 
 

Phos expressa seu medo em relação a sua transformação, e angústia, já que não sabe os efeitos que poderá acarretar. Tais pontos ganham maior autenticidade, pois as joias não são passíveis de mudanças, ao menos não tão marcantes quanto a protagonista.

A obra possui forte contexto budista. Kongo sensei é o retrato de um monge, refletido em suas vestimentas e em sua personalidade. Seu nome  (Kongou) significa vajra, que no budismo simboliza a verdade indestrutível. Os Lunários assemelham-se a bodisatvas, seres que estão a caminho da iluminação. 

 
 
A protagonista perde continuamente partes de seu corpo, sendo as que foram perdidas substituídas por nácar (substância encontrada em conchas) e por liga de ouro. Esses materiais fazem referência aos Sete Tesouros de Buda.

No episódio 8 a protagonista emerge de uma Flor de Lotus. Simbolicamente a Flor possui muitos significados, no entanto, o mais cabível para a situação seja renascimento. A protagonista abandona o seu antigo eu e “ressurge” como um novo ser, tal qual a borboleta, que anteriormente uma lagarta, rompe do casulo.

 

Houseki no Kuni surpreendeu pelo exímio uso do CG, mas não limita-se apenas a isso, e é bem mais do que aparenta ser. Reassistir ao anime geralmente é uma surpresa, pois sempre há algo nas entrelinhas a ser notado. Contudo, chega ao seu fim quando a trama começa a ganhar um aspecto intrigante, sendo apenas a ponta do iceberg.

Kanch0me


Kanch0me (Arthur Felipe Valença) é formado pela Federal Rural de Pernambuco em Biologia, além de técnico em informática. Atualmente é estudante de Licenciatura. Entusiasta da indústria cinematográfica e amante de animesmangásHQs e videogames.

Cargo: Escritor

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