A complexidade dos sentimentos humanos | Watashi no Shounen | Review

Sinopse: Satoko Tawada, uma mulher solteira de 30 anos se depara com o solitário Mashuu Hayami, um garoto de 12 anos que treina futebol sozinho em um parque. Por puro capricho Satoko começa a ajudar o garoto e a fazer parte do seu cotidiano. Ambos assolados pela solidão, conseguem encontrar conforto um no outro, e a mediada que o tempo passa, um forte afeto começa a florescer entre eles.

Autor (a): Hitome Takano

Serialização:  Gekkan Action, Young Megazine

Quantidade de capítulos: 43

Ano de publicação: 2015

 

A temática shotacon tende a ser controversa, em sua essência. Geralmente tem características apelativas ou caem em clichês novelescos, além de serem, até certo ponto, previsíveis em sua conclusão. Porém, Watashi no Shounen é uma exceção à regra. Conseguindo tratar seus temas de maneira sutil e adulta.

Apesar de sua premissa, o mangá não entrega-se constantemente ao melodrama, e consegue trazer reflexões, analogias e temas comuns como amadurecimento e relações familiares. Os dramas e dilemas dos personagens conseguem ser convincentes e interessantes de acompanhar.

A autora Hitome Takano faz questão de não adicionar muitos elementos nos quadros, fornecendo ilustrações claras e limpas. A mesma concede maior atenção para as expressões dos personagens e consegue transmitir os sentimentos deles de maneira natural.

 

 

Claramente que grande parte da trama se debruça nos dois protagonistas. Satoko Tawada é o retrato da mulher independente desprovida de sonhos românticos. É emotiva e age segundo seus sentimentos, principalmente quando se trata de Hayami. Sempre está cobrando de si mesma um comportamento mais maduro e almeja se tornar uma pessoa que Mashuu Ha admire. Não possui uma relação amistosa com sua mãe, a qual sempre está pressionando ela a se casar.

Já Mashuu Hayami é o típico garoto solitário e de poucos amigos. Ele é quieto e pouco notado pelos outros. Sofre com a ausência de afeto familiar, já que seu pai prefere afogar-se em trabalho. É o mais marcado pelo intervalo de tempo. Aos 12 anos, vê Satoko como uma figura materna, já que é a pessoa mais próxima a ele, tanto que realizam várias atividades no estilo mãe e filho. Em seus 14 anos, volta todos os seus pensamentos para Tawada a ponto de ignorar os outros ao seu redor. Com 15 anos ou mais, está maduro e mais centrado em suas escolhas.

Apesar desses dois personagens serem o foco da história, a autora abre espaço para outros.

A colega de escola de Mashuu, Nao Ogata, desde a infância teve um interesse pelo personagem. Fumitaka Shiikawa, chefe e ex-namorado de Tawada, guarda um rancor contra a mesma, pois nunca entendeu o motivo do fim do relacionamento entre eles. Ambos desempenham o papel do pensamento comum, e tentam compreender e esclarecer o laço afetivo entre Satoko e Mashuu, porém ficam presos em uma situação paradoxal.

De maneira geral, Hayami e Tawada compartilham diversas semelhanças. Ambos possuem problemas familiares, são a figura do irmão mais velho, vivem vidas solitárias e são extremamente carentes. Essas similaridades provavelmente sejam o gatilho para o desenvolvimento da relação entre eles.

 

No decorrer, tanto Mashuu quanto Satoko são suportes um para o outro. Eles amadurecem juntos e expandem seus horizontes, existindo uma inspiração mútua entre ambos. Além de que, raramente existe contato excessivo entre eles. No entanto, a maneira de como um olha para o outro é intensa.

 

Em certos momentos Hayami deixa claro que não está apaixonado por Tawada. O mesmo diz que não pode esconder seus sentimentos por ela, no entanto, afirma que pode ser algo diferente de amor. Filosoficamente, o conceito de amor tem várias definições. Eros, ligado ao desejo e a paixão. Philia, denota amizade, alegria, admiração mútua. Por último Ágape, definindo o amor divino, o amor de/por Deus. Em minha concepção, o “amor” entre os personagens se aproximaria de Philia. Porém, dentro do termo existem vários outros significados.

Apesar das afirmações de Hayami, alguns aspectos ficam ambíguos e abrem margem para muitos “e se”. Manshuu poderia ser um filho, um amigo ou um amante para Satoko, tudo dependeria do cenário e das circunstâncias. Além disso, Satoko parece omitir certos sentimentos, porém as vezes a verdade não precisa ser revelada ou encontrada, pois pode desencadear efeitos inesperados.

De maneira comparativa, o relacionamento entre eles é semelhante a andar sobre gelo fino, qualquer movimento brusco pode produzir uma situação indesejável para ambos.

O fato é que a relação entre os personagens não pode ser definida por meras palavras, tampouco ser colocada em preto ou branco, estando em um matiz totalmente diferente. Tamanha é a complexidade do laço entre os personagens, que nem eles conseguem explicar. O que importa é a felicidade mútua.

Posso definir Watashi no Shounen como uma tempestade de sentimentos. A jornada de amadurecimento de Mashuu e Satoko, e a relação entre eles, que transcende o senso comum de amor, são os principais pontos que dão charme ao mangá. Mesmo que trabalhe com romance, resumir o mangá meramente a esse tema é praticamente injusto, já que é uma obra rica em vários outros assuntos, e acima de tudo, sobre a multiplicidade dos sentimentos humanos.

Kanch0me

Kanch0me (Arthur Felipe Valença) é formado pela Federal Rural de Pernambuco em Biologia, além de técnico em informática. Atualmente é estudante de Licenciatura. Entusiasta da indústria cinematográfica e amante de animes, mangás, HQs e videogames.

Cargo: Escritor

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