É incrível como Vlad Love consegue mesclar muito bem algumas escolhas mais genéricas e comuns com uma estilização mais evidente. O anime brinca com temas da cultura pop no geral de forma muito divertida e descontraída. Um dos pontos que eu mais gostei é como ele consegue despertar uma curiosidade com tais temas que são encenados de forma ainda mais criativa, enquanto mescla com a trama principal, que é simples e rasa de propósito.
Então, podemos dizer que na superfície temos uma história relativamente mais simples, mas que permite que o espectador realmente embarque nos temas que nos querem ser propostos. Até os personagens tem essa característica, tanto visual como em sua personalidade mais genérica e evidente, porque não é importante (pelo menos não para mim) que eles tenham um aprofundamento mais meticuloso. O que nos é mostrado em termos de problemática ou profundidade é mais usado como um pretexto para referenciar algum tema da cultura pop, enquanto desenvolve uma sensibilidade com o espectador.
Em todos os episódios, mesmo que por um breve momento, é possível sentir uma sensação de imersão muito prazerosa. Por possuir uma abordagem mais contemplativa em vários momentos, com esses cenários mais requintados e trabalhados com todo tipo de recurso usado para embelezar as cenas, nós por natureza prestamos mais atenção a esses detalhes, pôs o anime é realmente mais bonito que o comum. Mas só quero destacar que não estou elogiando o anime gratuitamente por ser diferente e bonito, e sim por fazer um uso inventivo disso.
A forma como os personagens se expressão acrescenta aquele tom mais descontraído que eu disse no começo da crítica. As personagens falam de forma verborrágica (mais expositivo) e direta, o tema fica sempre óbvio na cena, mas sempre com um teor muito cômico.
O anime resolve um só plano com vários enquadramentos. Ele intercala enquadramentos mais abertos com enquadramentos mais fechados através de janelas, essas que contém vários planos detalhes, close-ups médios, close-ups e etc. O espectador é guiado a poder contemplar o máximo das cenas já que o anime quase não corta para um plano diferente. Então, podemos ver uma micro expressão, uma ação mais evidente ou até uma personagem vista por mais de um ângulo diferente em um só plano, sem cortes. Essa técnica de usar vários enquadramentos numa mesma cena não é algo novo, o Masaaki Yuasa já fez o mesmo em “Ping Pong The Animation 2014” e outros diretores também, mas Mamoru Oshii faz com um objetivo diferente.
Os planos são tão pouco movimentados, que quando acontece é possível até mesmo sentir. Como na cena onde a personagem da Mitsugu Bamba (protagonista do anime) corre pelos fundos do teatro. Nós podemos ver a personagem se movimentar pelos cenários, é quase um sentimento de liberdade daqueles planos mais presos e fechados. Quando os personagens mudam de cenários, o anime intercala planos aéreos que se passam na realidade, e tem até cenas que também se passam na realidade, isso também passa uma sensação de movimento e liberdade. Por ser algo novo, pelo menos é novo para mim, é possível ter esse sentimento de fascínio por essa estilização mais contemplativa.
A cada episódio essa estilização vai ficando mais evidente. Até porque, como eu mencionei no começo do texto, a trama é mais simples de propósito. Ela não possui esse senso de progressão que trabalha de forma crescente, então alguma coisa precisa ir para frente em algum sentido, para que o espectador não fique em um limbo vendo sempre a mesma coisa em todos os episódios. Não só os temas do anime vão mudando durante os episódios, como esse estilo de narrativa mais sensorial também progride e se alterna muito.
Resumindo, Vlad Love constrói com perfeição uma experiência de sentidos, conhecimento e inovação em todo seu Sistema Artístico. São tantos elementos que parecem funcionar apenas de forma separada, mas que juntos causam um efeito muito positivo.
Henrique Neves é fundador, administrador e escritor do site Casa dos Reviewers! Formado na faculdade de Jogos Digitais da Universidade Nove de Julho e estudante ativo (autônomo) de linguagem cinematográfica e animação.
Cargo: Administrador/Escritor
Henrique Neves é fundador, administrador e escritor do site Casa dos Reviewers! Formado na faculdade de Jogos Digitais da Universidade Nove de Julho e estudante ativo (autônomo) de linguagem cinematográfica e animação.
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