Studio: Studio Bind
Temporada: Inverno 2021
Mesmo sendo um universo criado para nos separar da realidade (como todo isekai faz) aqui ele tenta abraçar uma “realidade” dos dois universos de forma bem ambígua. A realidade do anime tem relação com a realidade dos seus temas. A forma de encenação do diretor Manabu Okamoto influencia o espectador a estar na pele do protagonista. Existe essa voz off que está sempre nos mantendo aparte do que se passa na cabeça do personagem. A obra estabelece uma certa intimidade com o protagonista Rudeus Greyrat.
São criadas diversas pequenas situações que nos aproximam desse universo e dos personagens de forma mais intima. Como quando o Rudeus pega a sua professora de magia Roxy Migurdia se masturbando no corredor, ou os barulhos de sexo entre os pais do personagem. A animação também passeia pelo fantástico, quer sempre surpreender não só no lado fantasioso, mas também nos mínimos detalhes. São pequenos detalhes, mas que fazem diferença nessa lógica mais realista.
É engraçado ver como um anime que se importa em comparar os traumas do personagem com a sua forma doentia de agir (tanto no mundo normal, quanto no mundo fantasioso) de forma bastante galhofada. Ao menos ele questiona o personagem quando é representado em sua vida passada, mas na sua forma infantilizada no mundo fantasioso, ele parece não levar isso tão a sério, ou questionar tais ações. Um exemplo disso é o tom que o anime dá para as cenas onde ele perturba sexualmente qualquer personagem feminina, com aquela música de comédia ou com a suavização das consequências de seus atos.
Eu em si não julgo os atos do personagem, pôs já são situações criadas para que nós realmente não nos apaguemos a essas ações. O que funciona em pouquíssimos momentos. O anime claramente pode ter uma noção de que as ações do personagem são incorretas, mas por estabelecer um olhar intimo com o personagem, o espectador é levado junto das suas ações. E ao infantilizar tais ações, até o tema principal do anime sobre uma possível ambiguidade perde muita força nessa questão.
Mas com exceção disso, eu tenho que admitir que tudo fora desse possível tema conseguiu me divertir. Pelo fato de a obra manter o espectador bem próximo do lúdico e da realidade, as magias surgem com um tom meio encantatório. Aquela importância que eu disse em aproximar o espectador do personagem também me aproximou mais desse lado fantasioso. Nós vamos aprendendo como esse mundo funciona junto com o Rudeus.
Resumindo, Mushoku Tensei tenta trabalhar com transparência temas adultos e fantasiosos ao mesmo tempo, mas a importância dos seus temas se perde quase que completamente por conflitar com uma visão infantil das ações doentias do personagem.
Henrique Neves é fundador, administrador e escritor do site Casa dos Reviewers! Formado na faculdade de Jogos Digitais da Universidade Nove de Julho e estudante ativo (autônomo) de linguagem cinematográfica e animação.
Cargo: Administrador/Escritor
Henrique Neves é fundador, administrador e escritor do site Casa dos Reviewers! Formado na faculdade de Jogos Digitais da Universidade Nove de Julho e estudante ativo (autônomo) de linguagem cinematográfica e animação.
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