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Onde o silêncio é imobilidade, música se torna movimento | Ongaku | Review

Sinopse: A história gira em torno de uma banda de rock formada por um trio de rebeldes, nenhum dos quais tinha experiência anterior com instrumentos musicais.

Diretor: Kenji Iwaisawa

Studio: Independente

Filme 2020

No início do filme, os personagens ainda não têm uma interação com a música. O que nós sabemos deles é que são possíveis delinquentes, e isso pelas suas vestimentas e características. O que mais surpreende é o nosso protagonista careca Kenji (interpretado por Shintaro Sakamoto). O personagem é bem inexpressivo em vários momentos. Parece até que ele não tem necessariamente uma personalidade ou uma vontade própria. Mesmo assim, suas escolhas e ações influenciam os demais personagens que estão a sua volta.

O anime começa com essa animação mais simples, que usa planos e enquadramentos bem estáticos, em alguns momentos os personagens nem se movem. Isso me passa muito bem essa ideia da vida dos personagens que é muito parada. Os personagens e os cenários também são bem “bidimensionais” nesse sentido. Nós só podemos ver eles por perspectivas mais simples, e não por um aprofundamento complexo. Até onde vemos, eles não têm um objetivo ou pretensões até que o personagem principal lhes convida para criar uma banda.


A música é tratada como algo a ser descoberto e aprofundado. O anime se etiliza muito bem em momentos musicais. A evolução do filme parte deste ponto. É uma evolução que vai estilizando a música cada vez mais até chegar ao final. Por já conhecermos o lado mais simples e sem expressividade de seu universo, os momentos de estilização são muito impactantes. Nem dá para dizer que o que eles tocam é realmente uma música, é mais uma espécie de barulho que eles fazem com os instrumentos. Quando os personagens fazem isso juntos pela primeira vez, ele muda daquele aspecto bidimensional e inexpressivo para uma perspectiva mais profunda e orgânica.

O filme trata a música como uma espécie de descoberta e objetivo fascinante. O som no filme gera movimento. O anime deixa o espectador imerso naquela realidade estática para depois gratifica-lo com essa sensação de movimento e liberdade.


Nesse primeiro momento ainda no começo do filme, essa técnica surge como algo fascinante, e que depois se torna um elemento imaginário, principalmente ao nos depararmos com o personagem Morita. A relação dele com a música já transcende essa visão de fascínio pelo novo, pôs ele já é alguém que se relaciona com a música, logo, ele demonstra um afeto mais imaginário e meditativo. A primeira música cantada pelo grupo personagem é calma, e isso se reflete no estilo de animação que nos é apresentado nesta cena e também pela ótima dubladora "Kami Hiraiwa". Nós como espectadores somos convidados a conhecer esse lado mais imagético.



Tem um momento do filme onde o Kenji desiste da música após ouvi-la em seu gravador. Se notarmos em como o anime trata a relação entre a música e os espaços, faz sentido entendermos o porquê de ele ter desistido. Naquela cena, eles apenas escutam a música que acabaram de gravar, e ela não teve impacto algum. Ela foi encenada sem aquela expressividade que estávamos acostumados ao ver quando eles tocam, passando novamente aquela sensação de imobilidade que vai contra o sentimento que os personagens deveriam sentir naquele momento.

Se não existe música ou prezar pela própria, não tem porque existir aquela expressividade mais evidente. Essa reta final deixa o filme novamente com aquele aspecto mais estático, pelo menos quando se trata do grupo musical do Kenji. Tem um momento bem interessante quando o grupo musical do Morita está entregando os panfletos para o evento de rock, e eles não estão chamando a atenção de ninguém. O personagem se incomoda com tal situação e começa a tocar de forma mais agressiva, e isso se reflete na animação. Por ser uma cena bem fora do comum para aquela leveza que o personagem teve ao cantar da primeira vez, mostra como ele não só gosta de cantar, mas que também leva isso muito a sério.


No festival de rock, nós estamos na situação onde o Kenji ainda não está lá para tocar, e outra mais importante que acontece com o personagem do Morita. Antes disso, é interessante notar que o primeiro a cantar sua música não impressiona tanto pela falta de expressividade que sua canção passa pela forma da animação que estamos acostumados. Isso de certo modo tira até a importância dos outros participantes, até que chega a vez da banda Kobujutsu do Morita. Enquanto eles tocam, ao mesmo tempo, o personagem do Kenji corria tocando flauta e sendo perseguido por uma gangue para o evento. O personagem ao som de rock vem percorrendo os espaços das ruas e dos cenários de forma muito visceral. Isso é interrompido quando o instrumento do Morita no meio da apresentação se quebra e atrapalha a sua canção.

Depois deste evento, toca mais uma banda e então é a vez do grupo do Kobujutsu do Kenji fazer o seu show. De forma até meio obvia, o personagem chega no último minuto para tocar com os seus amigos, então temos a cena mais expressiva de todo o filme. Quando os personagens começam a tocar, a banda do Morita pela força da música se junta a eles na mesma canção. É interessante notar como neste ponto, tudo fica mais orgânico, tridimensional e expressivo, e esse efeito atinge até a plateia que está assistindo. E quando parece que terminou, o Kenji continua tocando sua flauta, e em um momento surreal da animação, existe um mergulho nesse lado imagético, e depois o personagem flutua pelo céu, transcendendo não só essa expressividade musical e imagética, mas também a realidade. É meio difícil ter ideia se aquilo foi real ou não, mas o importante é passar essa ideia desse efeito da música.



Para concluir minha crítica. Todas as ideias e a encenação do diretor Kenji Iwaisawa conseguiram através do contraste da simplicidade e do expressivo, passar essa ideia sobre uma descoberta por movimento e fascínio que a música pode proporcionar.




Henrique Neves é fundador, administrador e escritor do site Casa dos ReviewersFormado na faculdade de Jogos Digitais da Universidade Nove de Julho e estudante ativo (autônomo) de linguagem cinematográfica e animação.

Cargo: Administrador/Escritor

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