O maior potencial de animes chineses (donghua) lançados recentemente – principalmente pelas produtoras Bilibili e Tencent Penguin Pictures – vem de um ótimo uso expressivo e possibilitador do seu 3D.
Enquanto muitos ainda tem preconceito com essa linguagem – relativamente recente se considerar que tem menos de 50 anos dês de o seu surgimento – que ainda passa por grande desenvolvimento, só me parece ter atingido uma maturidade na Pixar. Mas isso não impede que animes como "Douluo Dalu, 2018" e "Ling Long: Incarnation, 2019" tenham conseguido se utilizar deste recurso de forma bastante evidente, expressiva e possibilitadora.
É interessante notar como Ling Long: Incarnation tem uma relação muito forte com jogos de videogame. Tanto visualmente quanto narrativamente, o anime tem um princípio muito único em conseguir ligar tais escolhas para passar uma sensação de que estamos desfrutando de uma jogatina diária. A primeira cena do anime passa essa ideia muito bem.
Os personagens começam em uma espécie de caverna onde precisam pegar recursos e voltar para a sua base. Assim que conseguem o que querem, são atacados por um tipo de inseto mutante que confunde a mente de alguns, e também por um lagarto gigante.
Os personagens tem uma missão, depois de conseguirem o seu objetivo, precisam fugir para sobreviver. Essa ideia não está só na estrutura narrativa do anime, mas também no visual, que são bem característicos de jogos de tiro, e na forma como o anime é encenado.
Além do uso expressivo do 3D, que busca sempre viajar pelos espaços, que sempre deixa o espectador em uma ótima perspectiva da ação, também tem alguns enquadramentos que rementem muito jogos de tiro. Nas cenas de ação, os personagens chegam a ficar em primeira e terceira pessoa.
Se Douluo Dalu é um anime que se aproveita deste recurso de forma bastante “poética” tentando exprimir uma beleza mais contemplativa e encantatória, aqui os cenários tem uma presença que busca mais um dinamismo das cenas. A câmera em vários momentos chega a flutuar pela ação. O anime faz ótimas sequencias sem perder a perspectiva do que está acontecendo em cada sequência. Coisa que não é impossível de ser fazer em uma animação convencional 2D, mas que exige muito mais esforço e técnica de quem o está fazendo. Acaba que o anime não fica só nisso. A trama também explora um certo contexto e hierarquia social e também religioso que guia os eventos da história.
Uma das minhas “decepções” foi pensar que o anime fosse levar essa ideia – de uma narrativa de jogo – bem mais adiante. Acaba que toda a maioria das sequencias do anime se passam apenas na base flutuante dos personagens e em alguns flashbacks.
Mas de maneira alguma eu diria que tal desenvolvimento de classes sociais foi ruim. Na verdade, o anime gasta bastante tempo contextualizando tudo que pode daquele universo. Mesmo não sendo o que eu queria ver, consequentemente, acabei me interessando muito por tudo que me foi sendo apresentado. A direção também conseguiu expressar muito bem uma possibilidade dramática desse 3D. Não a ponto de fazer chorar, mas sim de interessar e instigar.
Se eu pudesse fazer um resumo geral, diria que Ling Long: Incarnation tenta de todas as formas jogar o espectador em todo o contexto daquele universo. Me parece existir um equilíbrio quase perfeito entre essas ideias.
Henrique Neves é fundador, administrador e escritor do site Casa dos Reviewers! Formado na faculdade de Jogos Digitais da Universidade Nove de Julho e estudante ativo (autônomo) de linguagem cinematográfica e animação.
Cargo: Administrador/Escritor
Henrique Neves é fundador, administrador e escritor do site Casa dos Reviewers! Formado na faculdade de Jogos Digitais da Universidade Nove de Julho e estudante ativo (autônomo) de linguagem cinematográfica e animação.
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