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A nova roupagem de um clássico de 1972 | Devilman Crybaby | Review

Sinopse: Akira Fudou é um garoto comum e o membro menos talentoso da equipe de atletismo. No entanto, o cotidiano de Fudou muda drasticamente com o aparecimento de seu amigo de infância Ryou Asuka, o qual revela um terrível segredo envolvendo a pesquisa do seu falecido professor que trata sobre demônios. Ryou pretende revelar ao mundo a existência dos demônios, e necessita da ajuda de Akira.



Diretor: Masaaki Yuasa

Estúdio: Science SARU

Quantidade de Episódios: 10  

Temporada: Inverno de 2018



Após mais de 20 anos Devilman ganha sua mais nova animação baseada na obra de “Go Nagai”, e até o presente momento, a única que adapta todo o mangá de 1972. Lançado pela Netflix, Devilman Crybaby não passou despercebido, sendo bastante comentado em diversos sites.

À primeira vista Crybaby chama atenção pelo seu estilo de animação, sendo inconsistente, pouco detalhado e desproporcional. Apesar de fora dos padrões, o diretor “Masaaki Yuasa” já adotou prática semelhante em diversas outras animações como, Kaiba (2008), Tatami Galaxy (2010) e Ping Pong (2014)


A trilha sonora é outro highlight, fazendo uso de diversos estilos como, Eletrônica, Techno e Synthwave, tornando as cenas bem mais frenéticas. Night Hawk e Strategist são alguns dos destaques, além da clássica música Devilman no Uta.

A trama em Devilman Crybaby segue um padrão crescente. Começa um pouco morna, girando em torno de Akira enfrentando outros demônios afim de proteger os humanos, além de lutar contra seus impulsos demônios. No entanto, é em sua metade que o anime tem seu ponto de virada e diversos acontecimentos irão culminar em um evento de grande escala. Apesar de ter um começo mais simples, este não inutiliza a obra, sendo necessário para criar uma base e estabelecer o enredo.

O anime traz os personagens clássicos do mangá de 70, além de melhorar significativamente alguns deles. O melhor exemplo é Miki Makimura, que possui mais presença e ganha seus momentos na trama, diferente da sua versão original, que passa boa parte do tempo flertando com Akira ou servindo de alívio cômico. Tais mudanças podem criar um vínculo mais consistente entre a personagem e o espectador.

 

Há também a adição de novos personagens, como os rappers, que substituem Dosu-Roku e sua gangue de bullies. Miki “Miko” Kuroda, amiga de Makimura e de Akira, sendo levemente baseada em Mikiko Kawamoto, personagem do mangá. E o atleta Koda Moyuru.

É nítido que o diretor molda a trama da obra de 1972 para os tempos atuais, além de dar seu toque pessoal. Entretanto, Crybaby mantém a essência do material original, ou seja, "mudou a embalagem, mas o produto é o mesmo". As diferenças da nova adaptação até que melhoram alguns aspectos do mangá. Estabelecendo melhor a amizade entre Akira e Ryou, além disso, apresenta os pais do protagonista com maior significância.

No que tange aos demônios, na versão original existe uma explicação estabelecida para a possessão, pois um demônio apenas pode possuir um corpo humano que tenha abandonado a razão. Na nova adaptação tal condição é abandonada. Os demônios se fundem com os humanos a torto e a direito, e por vezes, criam momentos dramáticos. Alguns funcionam, como o fim da família Makimura, já outros não engatam, como o confronto entre Akira e Jinmen, sendo o peso deste evento rapidamente esquecido.

A adaptação de 2018 lança críticas sociais em diversos momentos, principalmente sobre preconceito, seja na cena em que os rappers são hostilizados pela polícia ou quando Miki, na infância, sofre bullying por ser mestiça.

Além deste, aborda diversos outros temas. A obra mostra como o ser humano pode ser cruel e destrutivo. "Thomas Hobbes" diz que o homem é mau por natureza, pois possui um poder ilimitado de violência, e a utiliza para se preservar ou preservar seus bens, ou seja, todo homem é uma potencial ameaça a outro homem. A adaptação consegue expor tal raciocínio, tanto que o fator chave para a ruína da humanidade é o próprio ser humano.

Outro ponto de destaque é a utilização da mídia para disseminar intriga e ódio. O sociólogo "Stanley Cohen" teoriza que os meios midiáticos atuam distorcendo o contexto daqueles que a sociedade considera fora dos padrões criando a imagem de “demônios”, resultando na construção de pânico moral. Ryou usa de tal artifício para gerar caos e pânico, afirmando que indivíduos com comportamento divergente estão sujeitos a se transformarem em demônios, tornando-os um perigo para a humanidade.

O anime possui forte contexto religioso. O quadro da Última Ceia na residência dos Makimura, a Bíblia e suas passagens, e diversos outros, aparecem expressivamente no decorrer. No entanto o realce fica a cargo de Ryou Asuka, que encarna o papel de Satanás.


A etimologia da palavra Satã significa adversário ou opositor, em Crybaby este ser é o adversário de Akira, e no princípio o opositor de Deus. Na bíblia é tido como um “anjo de luz” que se tornou um rebelde. No anime essas características são mantidas, sendo uma criatura de esplendor e provoca uma rebelião junto dos demônios para desafiar o Criador. No versículo 09 de Apocalipse, é evidenciado que Satanás é vencido e jogado na Terra. Cena inicial do primeiro episódio. Em Apocalipse 12:12, é dito que houve alegria no céu, e tristeza para os seres humanos, influenciados por ele na Terra. Na adaptação Ryou Asuka é um grande manipulador, e influi nos eventos da trama. 

 


Apesar das referências bíblicas, estas não devem ser levadas ao pé da letra. Nas escrituras Satanás é tido como um ser puramente maligno, entretanto sua versão em anime sente amor por Fudou Akira. No fim das contas não há espaço para maniqueísmo em Devilman.

Devilman Crybaby tem suas diferenças, porém o resultado final permanece o mesmo que sua versão original, contudo possui seus tropeços, e sofre com o reduzido número de episódios, tornando-o bastante corrido. As lutas sem glamour, a violência e o teor sexual podem afastar alguns indivíduos. É uma obra que divide opiniões, mas, quer queira quer não, é fonte de inspiração para diversas trabalhos. 


Kanch0me


Kanch0me (Arthur Felipe Valença) é formado pela Federal Rural de Pernambuco em Biologia, além de técnico em informática. Atualmente é estudante de Licenciatura. Entusiasta da indústria cinematográfica e amante de animesmangásHQs e videogames.

Cargo: Escritor

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